A composição do leite se torna importante para a indústria e produtor, pois o rendimento industrial na fabricação de produtos como queijo, manteiga, iogurtes é reflexo do teor de sólidos do leite recebido. Inclusive, bonificações por maiores teores de gordura e proteína já são realizadas pelas principais empresas do país.
Vários aspectos como raça, estádio de lactação, ambiente, estação do ano, doenças e nutrição podem afetar os teores de sólidos do leite, sendo o último controlado de forma mais direta para se conseguir resultados mais rápidos.
Desse modo, a análise da composição do leite da fazenda pode ser uma ferramenta para ajustes de dieta e manejo.
Através da manipulação da dieta, as alterações da proteína do leite giram em torno de 0,6 unidades percentuais, sendo mais prováveis 0,1 a 0,2 unidades, enquanto o potencial de alteração da gordura é maior, girando em torno de 3 unidades percentuais.
Normalmente, quando se aumenta proteína também se aumenta a produção, não ocorrendo o mesmo com a gordura (Waldner et al., 2004).
Proteína
A proteína do leite é composta por aproximadamente 80% de caseína e 20% de proteínas do soro. As células secretoras da glândula mamária sintetizam as proteínas do leite a partir de aminoácidos provenientes, ou transportados do sangue.
No entanto, a própria glândula mamária, utilizando precursores como glicose, acetato e outros aminoácidos, pode sintetizar alguns aminoácidos (Bequette et al., 1998).
Maximizar a proteína microbiana sintetizada no rúmen é fundamental para melhorar a síntese de proteínas do leite e necessita de fontes de carboidratos para o processo de fermentação.
Segundo Ferraretto (2013), para cada aumento de 1% de amido digestível na dieta de vacas leiteiras, aumenta 0,015% o teor de proteína do leite, desde que a proteína da dieta esteja balanceada. Isso é possível aumentando a quantidade, ou mudando o processamento de milho, como por exemplo, moído de forma mais fina, grão úmido, floculado.
A suplementação com aminoácidos também pode impactar no teor de proteína do leite. Leonardi et al. (2003) estudaram a inclusão de 0,07g/100g de MS de metionina suplementar em dietas com dois teores de PB (16,1 e 18,8%), utilizando 16 vacas da raça holandesa, com média de produção de 42 Kg/dia.
Com a adição da metionina, a concentração de proteína do leite aumentou de 3,17 para 3,26% e não houve diferença na produção de leite e CMS (Consumo de Matéria Seca) entre os tratamentos.
Gordura
A gordura do leite é composta de forma predominante por triglicerídeos, formados por uma molécula de glicerol associada a três moléculas de ácidos graxos. Esses ácidos graxos são provenientes de duas fontes:
– A síntese de novo, que produz ácidos graxos de cadeia curta e de cadeia média na glândula mamária, utilizando como principal fonte de carbono o acetato produzido na fermentação ruminal; ou pela
– Captação direta dos lipídeos da corrente sanguínea, produzindo os ácidos graxos de cadeia longa (superiores a 16 carbonos).
Os ácidos graxos com 16 carbonos podem ser formados através das duas fontes (Bauman e Griinari, 2003).
O aumento da produção de proteína do leite, com aumento de concentrados (maiores teores energéticos) na dieta, é limitado pelo ponto em que o pH do rúmen cai sensivelmente e reduz a população celulolítica, podendo reduzir a gordura do leite.
Nesse contexto, Ferraretto (2003) demonstrou que, para cada aumento de 1% de amido digestível na dieta de vacas leiteiras, diminui 0,014% no teor de gordura do leite. Isso mostra que a gordura e a proteína do leite são inversamente proporcionais, no que diz respeito à concentração de amido digestível no rúmen.
Por outro lado, aumentar a diferença cátion-aniônica da dieta (DCAD) pode ser uma opção para aumentar a gordura do leite. A partir de 3,3% de gordura no leite, a cada 100 mq/Kg de DCAD, com aumento de potássio ou sódio na dieta, aumenta 0,1% no teor de gordura (Erdman e Iwaniuk, 2017).
Maior teor de sólidos beneficia os laticínios, aumentando a eficiência do sistema, melhorando o rendimento industrial, assim como o preço do leite, quando esse está vinculado aos seus componentes, incentivando os produtores a explorar cada vez mais a nutrição das vacas em lactação para manipulação de proteína e gordura do leite.
No entanto, sempre deve-se avaliar a rentabilidade da manipulação nutricional para aumento do teor de sólidos.
Referências Bibliográficas:
BAUMAN, D. E.; GRIINARI, J. K. Nutritional regulation of milk fat synthesis. Annu. Rev. Nutr., v. 23, p. 203-227, 2003.
BEQUETTE, B. J. et al. Current concepts of amino acids and protein metabolism in the mammary gland of lactating ruminant. J. Dairy Sci. v. 81, p. 2540-2559, 1998.
ERDMAN, R.; IWANIUK, M. DCAD: It’s not just for dry cows. Disponível em: http://tristatedairy.org/Proceedings%202017/Erdman%202017.pdf.
FERRARETTO, L.F.; CRUMP, P.M.; SHAVER, R.D. 2013. Effect of cereal grain type and corn grain harvesting and processing methods on intake, digestion, and milk production by dairy cows through a meta-analysis. Journal of Dairy Science, v. 96, p. 533-550.
LEONARDI, C., et al. 2003. Effect of two levels of crude protein and methionine supplementation on performance of dairy cows. Journal. of Dairy Science,. v.86, :p.4033–-4042.
WALDNER, D. N. et al. Managing milk composition: normal sources of variation. OSU: Extension facts. 2004. Disponível em: www.ansi.okstate.edu/exten/dairy/ef-4016.html .