Conceito elaborado em 2006 e proposto em 2013 pelo Professor Paulo Carvalho da UFRGS, o Manejo Rotatínuo tem ganho cada vez mais adeptos Brasil a fora. Diferente do que alguns pensam, o pastoreio Rotatínuo não se refere a um método de pastoreio, mas sim a um conceito de manejo.
A palavra Rotatínuo origina-se da fusão dos nomes rotativo e contínuo, uma vez que pode ser aplicado em ambas as estratégias de manejo. É uma nova visão no manejo da pastagem, tendo como foco a conexão pasto e animal.
Antes de seguir, cabe um parêntese sobre os métodos de pastoreio contínuo e rotativo.
Quando olhamos para estratégias de manejo, temos a visão errônea (do campo), que associa manejo contínuo a manejo extensivo e o manejo rotativo ao intensivo. Na verdade, ambos podem levar a cenários de baixa e alta produtividade, tudo dependendo de como serão conduzidos.
Essa “falsa” interpretação, que associa os manejos a extensivo e intensivo, acontece porque na maioria dos casos nos deparamos com sistemas contínuos muito mal manejados e sistemas rotativos com um manejo satisfatório.
Sem dúvida, a complexidade e a forma de tocar um pastejo rotativo, do ponto de vista do controle do pasto, é melhor. Afinal, nesse método de manejo conseguimos controlar o momento de entrada e saída dos animais no piquete, visto que podemos definir o melhor momento para a colheita do pasto, assim como definir o resíduo que queremos deixar na área.
O foco do manejo rotativo é entrar na área com o máximo acúmulo de folhas verdes, colhendo a forragem produzida com eficiência, rebaixando o pasto até a altura que não comprometa o rebrote. Todo esse manejo (consumo de pasto) deve acontecer em um espaço mais curto de tempo (de preferência antes de começar a termos um rebrote mais intenso), o que leva a uma maior taxa de lotação quando comparado ao manejo contínuo.
Já no manejo contínuo, a complexidade de fazê-lo bem-feito é muito maior, uma vez que o controle sobre o pastejo é menor em comparação ao manejo rotativo (dado as oscilações no crescimento da planta ao longo do tempo e o maior período de ocupação dos animais na área). Essa discrepância no crescimento da planta e carga animal que acontece no contínuo, demandaria da lotação animal nas áreas, o que traria uma complexidade a mais no manejo dos animais.
Por isso, na prática, algumas propriedades acabam fazendo um manejo alternado, manejando os animais nas áreas por períodos de ocupação maiores do que no rotacionado, alternando os animais nos piquetes de acordo com a oferta de forragem.
Concluindo sobre os manejos, no rotacionado o foco reside na eficiência de colheita da forragem, tendo como consequência maior lotação por área, menor desempenho individual, com maior produção por hectare. No manejo contínuo temos a situação oposta, ou seja, menor lotação e maior GMD individual (quando bem conduzido).
Manejo Rotatínuo
O que muda com o conceito rotatínuo é trazer à tona o olhar sobre o animal orientando a desfolha do pasto e os manejos aplicados. Ou seja, é um conceito de manejo fundamentado no comportamento de pastejo dos animais (“bem-estar ingestivo”) definindo os momentos de entrada e saída dos animais no piquete.
Antes de evoluir sobre esse conceito de manejo proposto pelo Professor Paulo Carvalho, precisamos entender a relação da estrutura do pasto com o consumo de forragem pelo animal tendo o bocado e tempo de pastejo como foco.
Para ilustrar e facilitar o entendimento, na Figura 1 temos o esquema simplificado do consumo de forragem pelo animal.
Note que a massa do bocado e a taxa de bocados estão diretamente relacionados ao consumo do animal ao longo do dia.
Perceba também que a estrutura do pasto exerce relação direta sobre esses dois fatores. Sendo assim, se queremos otimizar o consumo de forragem pelo animal, precisamos pensar no manejo do pastoreio orientado para os momentos ótimos dos bocados.
Uma vez que existe relação da estrutura do pasto com a formação do bocado, precisamos definir então quais seriam os momentos de melhor estrutura de pastejo sob esse novo olhar.
A ideia do conceito do pastoreio rotatínuo é que o pasto precisa ter a melhor estrutura para captura da forragem pelo animal.
Para definir, então, os momentos de entrada e saída, diferente do rotativo que foca no acúmulo máximo de folhas verdes e saída com resíduos mais baixos, no rotatínuo precisamos entender quais seriam os momentos em que o bocado está potencializado.
Na Figura 2, podemos observar a dinâmica do pastejo do animal. Note que, a cada nova faixa de pastejo, ocorre redução tanto no tamanho, quanto na eficiência dos bocados. Isso acontece pois, na primeira faixa há uma maior proporção de folhas, facilitando a formação do bocado. À medida que o pastejo avança pelas faixas ao longo dos dias, a proporção de folhas decresce, o que torna mais desafiadora a formação dos bocados.
Sabendo desse comportamento, a proposta do manejo rotatínuo, é de que a saída dos animais da área (momento ótimo de interromper o pastejo) ocorresse quando o bocado do animal começasse a perder eficiência, o que remete, na prática ,a um rebaixamento de até 40% da altura de entrada.
Ao aplicar esse novo conceito de manejo, os animais irão consumir somente o “filé mignon” do pasto. Como resultante, ocorrerá a redução do período de ocupação dos animais na área e, consequentemente, o giro mais rápido entre os piquetes, o que abre a oportunidade de trabalhar com menos piquetes dentro de cada módulo de manejo.
Como o próprio Prof. Paulo diz “no rotatínuo o tempo de descanso é menor porque o pasto nunca se cansa. Ele sempre tem resíduo, sempre tem fôlego”.
Um ponto comum da aplicação do rotatínuo é que as áreas passam a ter baixa intensidade e alta frequência de pastejo. Dados de pesquisa, confirmados por experiências práticas, demonstram um aumento potencial de 25% na produção com a adoção do rotatínuo, o que influencia diretamente o ganho por hectare.
Qual melhor forma de manejar o pasto? Pergunte para o consumidor (o animal) como ele prefere consumir!
Boa tarde!
Estamos iniciando o pastejo rotatínuo, com bastante entusiasmo, quando completar um ano compartilharei nossas informações.
Muito boa a matéria acima sobre pastoreio rotatínio