Um panorama geral sobre o uso de coprodutos
Utilizados principalmente como ferramenta de redução do custo alimentar na nutrição animal, os coprodutos vêm tomando cada vez mais espaço nas formulações, não apenas como substitutos dos principais ingredientes utilizados na alimentação animal, mas também como ingredientes estratégicos para determinadas dietas.
Os coprodutos são resíduos obtidos a partir de processos da agroindústria (produção de álcool, sucos de fruta, lavoura e alimentação humana) e, por apresentarem bom valor nutricional, podem ser utilizados nas formulações, substituindo parte do milho e farelo de soja na alimentação animal, permitindo assim, mesmo desempenho, por menor custo.
Da mesma forma que todos os alimentos utilizados na produção animal, os coprodutos também seguem as classificações de volumosos e concentrados.
Para lembrar: volumosos são alimentos que possuem mais de 18% de fibra bruta e menos de 60% de NDT; já os concentrados seguem na linha contrária, com valores acima de 60% de NDT, e menos que 18% de fibra bruta. Dentro dos concentrados, ainda há a classificação em energéticos e proteicos, sendo os energéticos aqueles com menos de 20% de proteína bruta e os proteicos os ingredientes com mais de 20% de proteína bruta. Essas informações são úteis para auxiliar o produtor a definir o tipo de coproduto e por qual ingrediente seria possível realizar a substituição.
Vale destacar que, além da natureza do ingrediente (volumoso, concentrado energético ou proteico), alguns coprodutos apresentam características físicas que contribuem com efetividade no rúmen, possibilitando substituir e/ou ser parte integrante da dieta, atuando de modo diferentes de sua classificação. Como exemplos práticos, podemos citar o caroço de algodão e a torta de algodão, que, na classificação se enquadram como ingredientes proteicos, no entanto contribuem com efetividade da dieta, podendo ser substitutos parciais ou integrais dos volumosos em alguns tipos de dietas.
Outro ponto que pode ser destacado é a contribuição nutricional secundária. No caso do caroço, além dos aspectos já citados, seu alto teor de óleo (20% da MS), faz com que esse ingrediente também seja utilizado com intuito de aumentar a densidade energética das dietas. Como curiosidade, de acordo com o levantamento feito por Pinto e Millen (2016), o caroço de algodão é a principal fonte de gordura (72,5%) nas dietas de terminação dos confinamentos brasileiros.
De acordo com este mesmo levantamento, os coprodutos mais utilizados em confinamento são: caroço e torta de algodão, polpa cítrica, casca e resíduo de soja. Essas informações foram reportadas por nutricionistas de gado de corte de todo país, que respondem em média por 85% dos animais confinados no Brasil.
Abaixo estão listados alguns coprodutos, com seus valores referência quanto a Umidade, Proteína Bruta (PB), Nutrientes Digestíveis Totais (NDT) e Fibra em Detergente Neutro (FDN).
Quando citamos “os mais utilizados” estamos falando em um panorama geral do país. No entanto, o Brasil possuí grande extensão territorial, com grandes variações de clima e qualidade do solo. Sendo assim, as regiões do país se diferenciam muito na produção de insumos e, portanto, os coprodutos disponíveis acabam sendo regionalizados de acordo com as produções da região.
A questão da regionalização é um fator muito importante para a escolha dos coprodutos quando a intenção for reduzir o custo alimentar, pois o frete impacta diretamente no preço e a viabilidade da utilização do produto.
Outro ponto a ser considerado junto a questão do frete, é o transporte de água. Existem alguns coprodutos com elevados teores de água em sua composição, como resíduos de cervejaria e de produção de álcool que não passaram por processo de secagem. Nesse caso, o custo que deve ser considerado para comparação e decisão de viabilidade de utilização, é o custo de matéria seca (MS), pois ao fazer o cálculo da matéria natural/original, esse pode esconder algumas verdades. O custo por tonelada do ingrediente pode custar “pouco”, porém, quando considerado o custo da matéria seca, esses podem não apresentar tanta viabilidade assim. É importante salientar que no preço final do ingrediente está embutido o frete e, nesses produtos que contém muita água, o produtor pagará pelo transporte da água que está inclusa no insumo, diluindo o custo e, portanto, é de extrema importância considerar o preço pago no ingrediente se ele não tivesse água, para realmente poder comparar a viabilidade, permitindo que o coproduto contribua com sua principal função, que é a redução dos custos alimentares.
Ao comparar os custos dos grãos de destilaria (WDG) e resíduos de cervejaria úmidos, que são dois produtos que apresentam altos teores de umidade, com os valores da tonelada em matéria seca, podemos observar a diferença de preços. O WDG possuí 72% de umidade (ou 28% de MS), a um valor de R$140/ ton. de matéria original. Se considerarmos o custo da tonelada da MS, em 1.000 kg (1 ton.) de WDG, há 280 kg de MS do insumo (1.000 * 0,28 = 280 kg), assim, R$ 140 é o custo de 280 kg de MS de WDG. Portanto, uma tonelada de MS de WDG custará R$ 500 (R$140 / 0,280).
Em outro caso, temos o resíduo de cervejaria que possuí 79% de umidade (ou 21% de MS) e sua tonelada está a R$190 na matéria original. O custo desse coproduto na matéria seca sai a R$ 905/ ton. (R$190 / 0,21). Como sugerido anteriormente, para os coprodutos proteicos, sempre devemos considerar o padrão de valores nutricionais e preço do farelo de soja. Nesse caso, perceba que o WDG apresenta valor abaixo do farelo de soja e o resíduo de cervejaria já apresenta valor muito próximo ao farelo de soja (R$990/ton.), porém, mesmo que o custo seja atrativo, é preciso ficar atento à composição nutricional de cada ingrediente, principalmente dos teores de proteína bruta para os insumos proteicos e de NDT para os energéticos, assim como sua disponibilidade (digestibilidade) e dos demais nutrientes que o compõe, afim de evitar queda no desempenho dos animais.
Um ponto muito importante na utilização de coprodutos é a avaliação e análise da composição nutricional periodicamente ou sempre que houver a compra de uma nova carga. Esse acompanhamento é ponto chave para obtermos sucesso dentro do sistema produtivo. No entanto, esse processo nem sempre é tão simples, pois a cada carga que entra na propriedade, uma nova amostra deve ser colhida e enviada ao laboratório que, por sua vez, tem prazo de 5 a 15 dias para liberar o laudo com os resultados, sendo que, dificilmente o produtor esperará 15 dias para começar a utilizar o insumo. Dessa forma, para evitar possíveis prejuízos, além do cuidado com os fornecedores, é importante realizar as análises esporádicas para manter um padrão. Essas análises apontam que aquilo que foi formulado pelo técnico responsável realmente será fornecido para os animais, garantindo também o desempenho esperado e indicando que o valor pago foi fiel aquilo que o produto prometia.
Uma ferramenta de controle que pode ser utilizada, apesar de subjetiva, é a análise da aparência, odor e umidade de todos os coprodutos e até mesmo dos produtos tradicionalmente utilizados. Ao perceber que um desses fatores estão alterados, o produtor deve comunicar o técnico que o auxilia, pedindo para que ele envie amostras dos insumos para um laboratório que faça análise.
Vale a ressalva de que, o relacionamento com fornecedores idôneos pode contribuir para uma melhor padronização dos coprodutos. Como são produtos resultantes de processamentos da indústria, a variação na sua composição nutricional é muito comum, pois é dependente de diversos fatores, como: moagem, prensagem, extração por solventes, compostos que são adicionados que fazem parte do processo, além da variação natural da matéria-prima original, que pode ser influenciada pela qualidade do solo, variedade de híbridos, cuidados com a lavoura.
Para alguns coprodutos, é preciso se atentar ainda à presença de micotoxinas. Os coprodutos provenientes do amendoim e do milho são mais susceptíveis ao desenvolvimento de fungos e produção de toxinas.
Os coprodutos são excelentes alternativas para substituição de ingredientes como milho e farelo de soja, quando esses têm elevados preços, porém como citado anteriormente, não basta apenas comparar os R$/tonelada ou R$/kg, há a necessidade de avaliar os custos em relação a qualidade dos coprodutos e os níveis de garantia da composição nutricional, para que não haja queda do desempenho dos animais.
Parabéns pelo artigo. Sempre aprendendo e inovando. Todavia devemos fazer análise do solo.
PARABENS PELA MATERIA
Muito bom o artigo. Aborda detalhes importantes, de maneira concisa e de fácil compreensão. Parabéns a autora.
Excelente artigo cara Cassiele Oliveira. Concordo contigo em número, gênero e grau. Estamos aguardando o próximo. Muito obrigado.
MOACIR GOMES de Santa Maria da Vitoria-Bahia.