Dieta de crescimento: Por que fazer uma?
O que no passado era uma estratégia para explorar o repique da arroba na entressafra, sem dúvida, hoje, o confinamento é uma ferramenta consolidada na pecuária de corte intensiva.
Desde sua chegada no Brasil – décadas atrás -, o confinamento tem sido muito utilizado, permitindo ajustar a lotação da fazenda, além de promover a engorda de animais, com eficiência, principalmente quando pensamos no período da entressafra.
O grande propósito do confinamento é suprir o aumento da exigência de energia que o animal apresenta na fase de engorda, permitindo assim que ele apresente maiores taxas de ganho de peso, quando comparado a um animal a pasto.
Além do confinamento, vimos surgir também outras estratégias para a engorda dos animais, com destaque para a terminação intensiva a pasto (TIP), contribuindo ainda mais para aumentar o desfrute da pecuária de corte.
Essa intensificação da engorda é um ponto importante para entendermos a mudança no padrão do peso de entrada dos animais nos sistemas de terminação. Basicamente, o que aconteceu na engorda (confinamento e TIP) não foi observado na recria, e, a partir do momento em que os animais mais erados foram sendo abatidos, o peso de entrada no confinamento foi diminuindo, com animais entrando cada vez mais leves.
Dessa forma, nas propriedades em que tradicionalmente se trabalhava com duas dietas – adaptação e engorda -, surge a necessidade de se repensar nas coisas e ajusta-las frente a essa nova realidade, seja ela no confinamento, seja ela na TIP.
Relembrando: a ideia da dieta de adaptação é adaptar a microbiota ruminal e desenvolver as papilas ruminais, aumentando assim a capacidade absortiva do rúmen, evitando acúmulo de ácidos e, consequente, queda do pH. As dietas de terminação são formuladas com o intuito de fornecer nutrientes (principalmente energia) para permitir que a deposição de tecido adiposo ocorra com eficiência nos animais, dando “acabamento” a eles.
Pensando então que, com a entrada de animais mais jovens e mais leves, com peso de entrada ao redor de 360 a 400 kg, e sabendo que estes ainda estão crescendo, depositando mais tecido muscular do que adiposo, haveria espaço para uma dieta intermediária ou dieta de crescimento. Nesse cenário, se após o período de adaptação esses animais forem expostos imediatamente à dieta de terminação (adensada em energia) poderia acontecer o achatamento da curva de crescimento animal – antecipando o depósito de tecido adiposo e comprometendo o peso de abate.
Para facilitar o entendimento do exposto acima, basta olharmos a forma como ocorre o crescimento do animal e a dinâmica de deposição de tecidos em seu corpo. Podemos dividir o crescimento dos bovinos em três momentos: nascimento, puberdade e maturidade (Figura 1). Vemos que, do nascimento até a puberdade, há um crescimento acentuado de tecido ósseo e, principalmente, muscular. Após a puberdade até a maturidade, ocorre desaceleração no acúmulo de músculo e aumento no acúmulo de gordura corporal, sendo que, após a maturidade ocorre basicamente o acúmulo de gordura. Vale destacar que, a fisiologia do crescimento dos tecidos corpóreos dos animais está diretamente ligada ao peso e ao tamanho corporal (frame) que eles possuem.
Se levarmos em consideração que animais em crescimento demandariam mais proteína do que energia, quando comparados a animais em engorda, a formulação da dieta de crescimento teria como objetivo aumentar o aporte proteico que chega ao intestino delgado do animal, afim de elevar a proteína metabolizável e incrementar a deposição muscular, garantindo maior desenvolvimento de carcaça.
O que se atentar ao fazer uma dieta de crescimento
As dietas de crescimento geralmente são formuladas com teores que podem variar de 15 até 17% de proteína bruta. Esses teores são determinados de acordo com peso de entrada, categoria animal, ganho esperado, condição sexual, etc.
Independente do valor final trabalhado, um ponto importante que deve ser considerado na formulação da dieta de crescimento é a fonte de proteína que será utilizada.
Precisamos lembrar que, quando falamos em proteína bruta, esta é formada por duas frações: a que é degradável no rúmen (PDR) – utilizada pelos microrganismos ruminais – e a que passa pelo rúmen e chega ao intestino delgado (PNDR).
No caso de dietas de crescimento, em que o objetivo principal é maximizar a deposição muscular, a exigência maior dos animais será por proteína metabolizável – que são as frações digestíveis da proteína microbiana formada no rúmen, mais a PNDR digestível, que ao chegarem ao intestino delgado, são passíveis de absorção para entrarem no metabolismo de deposição muscular do animal. Quanto mais jovem o animal, maior será sua exigência por proteína metabolizável.
O conceito de proteína metabolizável é muito importante no momento do planejamento e formulação das dietas de crescimento. Não basta simplesmente aumentar a proteína bruta da dieta, e sim aumentar o aporte de proteína metabolizável, através de fontes de proteína verdadeira, como o farelo de soja ou algodão, que possuem frações de PNDR consideráveis.
Por fim…
Claramente, sob o ponto de vista de desempenho animal, a utilização de dieta de crescimento no período que antecede a dieta de terminação no confinamento é extremamente interessante e traz benefícios, porém, um ponto muito importante que precisa ser avaliado é o operacional do confinamento. Por vezes, trabalhar com uma terceira dieta pode causar muitas alterações na rotina diária, prejudicando a execução das atividades, onerando o operacional do confinamento e trazendo mais malefícios do que benefícios.
Como toda boa estratégia, os benefícios são atraentes, porém não será apenas a inclusão da dieta de crescimento que garantirá maior desempenho dos animais confinados. O conjunto da operação é que garante o sucesso.