Desafios da pecuária brasileira.
Brasil, gigante pela própria natureza!
Um país de clima tropical, com uma imensidão de terras agricultáveis e uma aptidão para produção agropecuária incontestável. Clima, terra e a paixão do produtor, fazem desse país uma potência mundial no quesito produção de alimento.
Falando em bovinos de corte, somos os maiores, somos o presente e com certeza seremos o futuro da pecuária mundial, e, para que isso se consolide, não podemos esquecer de continuar fazendo a lição de casa, da forma correta, e continuar trilhando o caminho da intensificação, adotando sempre tecnologias que resultem em aumento dos resultados técnicos e econômicos.
Diferente do que muitos pensam, fazer uso de tecnologia, nos dias atuais, não necessariamente é fazer uso de drones para medição de área e predição de massa de forragem, ou então, usar softwares de altíssima tecnologia para gestão da propriedade. Nesse caso, fazer uso de um simples quadro de gestão à vista pregado no curral da fazenda, com metas de salgação para as diferentes áreas da propriedade, é usar de tecnologia. De maneira simples, ter um quadro pregado no curral, com uma meta que permita a comparação do planejado e realizado, pode trazer ao time de colaboradores maior comprometimento com o resultado da suplementação do gado.
Dito isto, a mensagem que deve ficar é que: não adianta mirarmos tecnologias 4.0, de última geração, se a lição de casa, a base, não estiver bem construída!
Pois bem, quando analisamos a pecuária brasileira, não é novidade que o grande desafio produtivo se dá pela variação na qualidade da forragem, que acontece ao longo do ano. Se por um lado temos a primavera e o verão, com temperatura, luminosidade e as chuvas – que favorecem o crescimento das plantas –, por outro, temos o outono e inverno, no qual o frio, a falta de luminosidade e chuva, diminuem o crescimento das plantas e afetam negativamente o crescimento dos animais.
Dessa forma, temos um momento no ano em que os animais ganham peso e outro em que os animais o perdem. Temos aqui o famoso “boi sanfona”, este que confere ao sistema de produção brasileiro a imagem de sistema extensivo, em que um animal é abatido com aproximadamente 60 meses (5 anos) de idade.
A análise desses números evidencia que: somente forragem não é suficiente para promover o crescimento animal de forma adequada, sendo o déficit mineral e proteico, os principais limitantes do sistema produtivo.
Sendo assim, a melhora do sistema de produção animal a pasto nasce na suplementação (não esquecendo do manejo da pastagem). Suplementar, segundo o dicionário, significa acrescentar alguma coisa, preencher a deficiência de, completar, suprir ou compensar. Ou seja, a suplementação de bovinos em pastejo deve ter como objetivo suprir as deficiências da forragem consumida pelo animal, atendendo assim suas exigências e/ou potencializando os processos ruminais de fermentação.
Para exemplificar, visando corrigir as deficiências do pasto no período seco do ano, o fornecimento de sal ureado, por exemplo, corrige parcialmente a limitação de proteína da forragem e faz com que o animal passe a perder menos peso, refletindo diretamente na idade ao abate (de 60 para 40 meses).
Devido ao aumento do custo da terra, surge a necessidade de aumento de produção por área, justificando a adoção da suplementação proteica energética durante a seca, assim como o uso de suplementos de maior tecnologia durante as águas. Em paralelo, o aumento da demanda por uma carne de melhor qualidade, assim como o atendimento de mercados mais exigentes (ex.: China), tem como meta o abate de animais jovens, chancelando a necessidade de explorar ganhos de peso maiores durante a vida do animal, principalmente durante a recria.
O início da intensificação
Historicamente, no Brasil, a intensificação da cadeia produtiva da carne iniciou-se em meados da década de 80, com o início dos primeiros confinamentos. Fechar os animais e tratar deles direto no cocho mudou a forma do pecuarista encarar a fase de engorda, impactando diretamente todo o sistema de produção.
A grandeza do confinamento está contida na efetividade em fornecer o que animal precisa em um momento crítico – do ponto de vista de exigência nutricional – da sua vida.
Por uma questão fisiológica, a partir de determinado peso, os animais começam a depositar mais gordura por quilo de peso ganho, o que aumenta muito sua exigência de energia, no qual, caso fiquem a pasto, têm seu desenvolvimento comprometido, principalmente quando esse período acontece na entressafra (período seco do ano).
Tem-se então, na estratégia de confinar os animais, a oportunidade de uma engorda mais efetiva, a antecipação da idade de abate, o aumento da produção de arrobas e a liberação das áreas de pastejo para uma categoria mais jovens e menos exigente. É por esses e outros tantos motivos que o confinamento no Brasil cresce ano a ano, provando que a intensificação é o caminho a ser seguido.
Ainda, falando sobre a fase de terminação dos animais, uma opção ao confinamento, que nasce no Brasil a partir de meados dos anos 2000 e traz flexibilidade o sistema de engorda, é a TIP (terminação intensiva a pasto).
A TIP é a tropicalização do confinamento no Brasil, em que fornecemos a mesma quantidade de ração que o animal receberia no confinamento, só que no pasto, sendo a grande vantagem desse sistema a simplicidade das instalações e manejo operacional, além de não haver a necessidade de se preocupar com silagem, uma vez que o pasto é a fonte de volumoso da dieta. No período das águas, essa ferramenta se torna ainda melhor, já que os problemas com lama (grande desafio de confinar nas águas) são quase inexistentes e é possível aproveitar ao máximo o pasto de boa qualidade, reduzindo assim os custos com ração.
Voltando à recria, com a intensificação da fase de terminação, a recria passou a ser um gargalo no sistema produtivo, principalmente pelo aumento da demanda de animais para engorda. Sendo assim, os efeitos negativos do período seco do ano, e a necessidade de alavancar o ganho durante as águas, precisaram ser ainda mais explorados. A intensificação da recria nasce com uso de suplementos de maior consumo, como proteinados e proteicos energéticos e, hoje, já existem projetos que deram um passo à frente na intensificação, utilizando ração (recria intensiva a pasto (RIP )) ou ainda recriando animais no confinamento.
Oportunidades para melhorarmos
Diferente dos Estados Unidos, no Brasil, não podemos fazer usos de alguns recursos que possibilitam explorar aumentos de desempenho dos animais, como, por exemplo, a utilização de hormônios de crescimento. No entanto, podemos olhar para algumas ações americanas, adaptá-las à nossa realidade, visando otimizar o uso dos recursos empregados no sistema produtivo.
Olhando para a fase de engorda dos animais, existem vários pontos que podemos atuar, melhorando a eficiência produtiva e os resultados econômico da fazenda.
Genética e sanidade, são dois dos três pilares que sustentam a base da eficiência produtiva, em que animais superiores, oriundos de seleção genética, assim como animais saudáveis, sempre responderão melhor a qualquer aporte tecnológico.
Pois bem, além destes fatores, existem inúmeras oportunidades, por vezes mal exploradas e de simples adoção, relacionadas à nutrição e manejo (terceiro pilar) que deveriam ser olhadas com mais atenção em uma fazenda pecuária.
Otimizar o uso dos alimentos através do processamento de grãos e fornecimento de aditivos alimentares; reduzir o desperdício a partir de um bom manejo de cocho; ter conforto e bem-estar animal, através de instalações bem dimensionadas; gerir bem os dados, avaliando os resultados pela análise do planejado e do realizado e; por fim, ter uma equipe engajada e comprometida; são ações que merecem atenção e com certeza agregarão muito porteira a dentro.
Visto a grande importância de cada um desses itens, citá-los seria muito pouco. Sendo assim, nos próximos texto exploraremos, no detalhe, o porquê fazer uso e o impacto de cada um deles no sistema de produção.
Co-autor: Matheus Moretti – Gestor Técnico de Bovinos de Corte na Agroceres Multimix