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Uso da ureia pecuária ainda gera dúvidas

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“É preciso servir ureia na ração de semiconfinamento nas águas? Tem algum risco de molhar essa ração?” – Pergunta enviada por Pedro Bezerra à Revista DBO.

Resposta de Matheus Moretti, zootecnista e gestor técnico de bovinos de corte da Agroceres Multimix, com vasta experiência em Terminação Intensiva a Pasto (TIP).

 

Primeiramente, vamos entender melhor o papel da ureia pecuária nas formulações, especialmente como ingrediente na nutrição de bovinos. Trata-se de um componente amplamente usado nos suplementos e rações para gado bovino, seja para fornecimento a pasto ou em confinamento, no período da secas ou das águas.

A ureia compõe a proteína bruta da formulação, mas como fornecedora de nitrogênio não-proteico.

Isso significa que ela não é uma fonte de proteína verdadeira como os farelos de soja, amendoim, algodão etc. Porém, quando chega ao rúmen do animal, ela libera nitrogênio para as bactérias utilizarem e, com isso, degradar a fibra da forragem consumida.

Diferentemente dos farelos proteicos, a ureia libera N somente no rúmen e apresenta uma velocidade de quebra muito maior do que as fontes de proteína verdadeira. Conceitualmente, ela apresenta 45% de nitrogênio.

Se aplicado o fator de correção para estimativa de proteína bruta (quantidade de N x 6,25), teremos, para cada 100g de ureia, um total de 281g de nitrogênio não-proteico equivalente.

A ureia, portanto, é um excelente ingrediente para uso em formulações, contribuindo para atender a demanda de N das bactérias ruminais, bem como ajudar na redução do custo do produto final.

Considerando-se que a quebra da proteína verdadeira é mais lenta, além de liberar outros compostos no rúmen, ao formularmos um suplemento ou ração, devemos olhar o todo e combinar a relação proteína verdadeira/nitrogênio não-proteico equivalente, de acordo com o contexto em si.

Sobre seu uso, de forma bastante genérica e dentro de um contexto do Brasil Central, tanto as formulações de seca quanto as de águas podem levar ureia. O que muda é a sua proporção na dieta.

Como, na seca, o capim tem uma maior deficiência de proteína e, proporcionalmente, mais fibra, as formulações desse período devem apresentar maior porcentagem de ureia do que aquelas fornecidas nas águas.

Sobre a ideia de que a ureia nas águas mata, cabe uma observação. Na verdade, o que mata é o consumo desse ingrediente em altas concentrações.

De forma bastante resumida: a ureia, quando liberada no rúmen, se em excesso, é absorvida e vai parar na corrente sanguínea, chegando ao fígado para ser metabolizada. Quando há excesso de consumo de ureia, a capacidade de metabolizar é saturada, levando ao aumento de nitrogênio no sangue do animal, podendo resultar em morte.

ureia

Nas águas, o problema não está na presença de ureia na formulação, mas no mau uso/manejo de cocho. Quando essa instalação é descoberta, chuvas intensas podem solubilizar a ureia. Caso essa solução venha a ser consumida, pode provocar problemas nos animais.

Aproveito este espaço para dar algumas dicas práticas:

      • Faça pequenos furos nas laterais dos cochos; isso ajuda a evitar o acúmulo de águas dentro deles.
      • Peça aos responsáveis pela salgação/suplementação do gado sempre lhe informarem quando houver água acumulada nos cochos; isso também ajuda a prevenir problemas.
      • Antes de iniciar o uso de uma formulação com ureia, dependendo da sua quantidade, adapte os animais ao novo alimento.
      • Caso a ração seja preparada na fazenda, tenha muito cuidado com a dosagem e a mistura.

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