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Atualização dos níveis de aminoácidos para poedeiras comerciais

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aminoácidos postura

A nutrição focada em atendimento dos aminoácidos digestíveis já é um assunto bastante estudado e há muitos anos utilizado na nutrição avícola. As primeiras publicações científicas com recomendações de aminoácidos surgiram em 1994, no NRC (National Research Council), e diversos experimentos foram realizados nas décadas de 1990 e 2000.

A exigência de aminoácidos é extremamente variável e dependente de outros fatores como ambiência, densidade de alojamento, consumo de ração, massa de ovos, relações com energia.

A maioria dos experimentos era realizada com aminoácidos isolados, porém, em condições de ambiência, instalações e taxa de lotação diferentes, o que interfere na exigência dos mesmos.

Sabendo dessa elevada variabilidade, a utilização do conceito de formulação com base na proteína ideal se difundiu largamente, uma vez que as relações entre os aminoácidos não são tão afetadas por fatores externos, como ocorre quando estudamos uma exigência de forma isolada. Sabendo disso, a utilização de relações de aminoácidos em função da Lisina nos permite extrapolar o resultado de um experimento de exigência de um determinado aminoácido.

Relação ideal de aminoácidos em relação à Lisina

Temos diversas publicações como as tabelas brasileiras e os manuais das casas genéticas, cada uma com uma sugestão diferente de relações de aminoácidos em função da lisina digestível. Esse cenário traz muitas dúvidas sobre qual a melhor recomendação a ser aplicada na avicultura.

aminoácidos

Aminoácidos não essenciais

Outro ponto importante, quando passamos a trabalhar com Proteína Ideal, são os aminoácidos não essenciais, aos quais, em muitos casos, não damos a devida atenção.

É importante salientar que quase 50% do N ingerido pelas aves vem dos aminoácidos não essenciais e, em casos de dietas com baixos níveis de PB (Proteína Bruta), as aves podem utilizar o N oriundo dos aminoácidos essenciais para sintetizar os não essenciais.

Alguns trabalhos consideram a relação entre o Nitrogênio Essencial (oriundo de aminoácidos essenciais) e o Nitrogênio Total da dieta (oriundo dos aminoácidos não essenciais e outras fontes de N da dieta).

Em resumo, dietas com elevados valores de PB tendem a ter uma baixa relação E:T (Nitrogênio Essencial : Nitrogênio Total) devido à grande quantidade de Nitrogênio Total oriundo da PB. Enquanto dietas com baixos teores de PB, tendem a apresentar elevadas relações de E:T,  pois existe menos N Total oriundo da PB e mais N originário dos aminoácidos suplementados sinteticamente.

Em situações de baixa E:T, a exigência de aminoácidos essenciais pode ser menor devido às elevadas quantidades de N Total na dieta, o que torna qualquer fonte suplementar de N Essencial suficiente para atingir o resultado esperado.

Ou seja, em casos de baixa E:T podemos subestimar o nível ótimo de aminoácidos essenciais e, na situação inversa, o nível ótimo de aminoácidos tende a ser maior, pois o organismo da ave pode estar aproveitando o N Essencial para síntese de aminoácidos não essenciais.

Por exemplo, em dietas com elevados teores de PB, o nível ótimo de metionina + cistina para produção de ovos pode ser menor do que em dietas com menores níveis de PB.

Aminoácidos Proteína Bruta
Experimento com níveis de proteína bruta e níveis de metionina + cistina para poedeiras comerciais – Centro de Pesquisas Agroceres Multimix

Massa de Ovos

Tendo em vista a enorme variabilidade para definição de níveis ótimos dos aminoácidos, um dos indicadores bastante importantes para nos ajudar a definir nossa estratégia nutricional seria a massa de ovos.

Ela é um indicador que correlaciona o percentual de produção com o peso do ovo, nos dando a real noção da capacidade produtiva da ave, uma vez que a mesma é fisiologicamente capaz de produzir um número máximo de massa de ovos.

Com isso, podemos afirmar que, se trabalharmos para a obtenção de máximo peso de ovo de um determinado lote, iremos obter um percentual de produção menor do que se buscarmos o maior número de ovos (% de produção). Utilizando a massa de ovos conseguimos fazer um ajuste mais preciso, tanto dos aminoácidos, quanto dos demais nutrientes da dieta, além de ajustar melhor as trocas de fase das rações.

No gráfico abaixo vemos que o pico de massa de ovos acontece após o pico de postura, ou seja, mesmo com a estabilização do percentual de produção, as aves ainda precisam de uma ração mais adensada para atingir o pico de massa de ovos. Após o pico e início da queda da massa de ovos semanal podemos reduzir os níveis de aminoácidos e demais nutrientes da dieta.

Aminoácidos Massa de OvosConhecendo a questão fisiológica das aves relacionada à massa de ovos e pensando na questão aminoacídica, temos alguns nutrientes que impactam diretamente a questão da massa de ovos.

        1. Proteína Bruta e Aminoácidos – Correlação positiva com peso e número de ovos;
        2. EMA – Correlação positiva com número de ovos e negativa para peso de ovo;
        3. Extrato Etéreo – Correlação positiva com peso de ovo e baixa correlação com número de ovos.
Lesson & Summers

A evolução na genética de postura tem tido como foco a melhora na persistência de postura, ou seja, o aumento da massa de ovos produzida por ave. Comparando o manual de uma mesma linhagem de poedeira comercial (gráfico abaixo) de 2009 e 2022, podemos notar aumento de 3% na massa de ovos até as 50 semanas de idade e de 1,5g na massa de ovos semanal.

Ou seja, temos animais que convertem melhor e, teoricamente, possuem uma exigência maior de aminoácidos para sustentar esse ganho genético na massa de ovos.

aminoácidos evolução massa de ovos ao longo dos anos

Aliado ao ganho genético em massa de ovos, temos a questão de peso dos ovos. Comparando o perfil de peso médio dos ovos de linhagens de uma década atrás, com aves atuais, vemos uma diferença gritante a partir de 50 semanas de idade. O peso dos ovos das aves atuais apresenta uma estabilização em seu ganho de peso semanal.

massa de ovos 50 semanasMetionina + Cistina

Sabendo que o peso dos ovos das linhagens atuais é mais estável a partir de 50 semanas de idade e são aves que produzem um maior número de ovos, temos espaço para trabalhar melhor as relações, ou níveis de aminoácidos, principalmente de metionina + cistina.

Sabemos que esse aminoácido é o primeiro limitante para aves poedeiras, que possui elevada correlação com peso e número de ovos. Os níveis de metionina + cistina têm sido constantemente revisados e atualizados pelos manuais das casas genéticas.

Conforme as aves ganham produtividade, espera-se que a exigência deste aminoácido aumente. Porém, temos alguns estigmas a serem quebrados com relação à metionina.

Há dez anos tínhamos aves a campo que possuíam um ganho de peso de ovo mais acelerado e, muitas vezes, era necessário adotar algumas ações para segurar o ganho de peso de ovos, entre elas, restringir a suplementação de metionina. O problema é que, por ser o primeiro aminoácido limitante para poedeiras, quando começamos a fornecer dietas com níveis basais, pensando em segurar o peso dos ovos, temos perda em número de ovos.

O trabalho abaixo elucida muito bem o que foi exposto no parágrafo acima.

aminoácidos metionina

Quando olhamos para a fase inicial de postura, de 18 a 50 semanas, a exigência em mg/kg de metionina + cistina para número de ovos é menor do que para o peso de ovos. Ou seja, a ave vai responder a níveis mais baixos de metionina para produção e, caso o objetivo seja maior peso de ovos, teremos que trabalhar com níveis mais altos.

Quando esse animal passa para a fase final de postura, acima de 50 semanas, a exigência em mg/kg, de metionina + cistina para número de ovos é maior do que para peso de ovos. Desta forma, se fizermos a redução nos níveis de metionina para segurar o peso de ovo, iremos perder em produtividade (número de ovos).

Consumo de Ração

Quando pensamos em exigências de aminoácidos, o consumo de ração é um dos indicadores mais importantes a ser medido. Ele é a base para qualquer nutricionista elaborar uma dieta balanceada e ajustada para determinada fase da vida do animal.

Sem o indicador do consumo diário, qualquer nutricionista vai formular no escuro, além de perder a oportunidade, em muitos casos, de reduzir custos das dietas por conseguir ser mais exitoso no momento de definir os níveis de todos os nutrientes da ração.

Medir o consumo de ração com eficiência em granjas de postura não é tão simples como parece. Algumas variáveis podem dificultar a mensuração correta deste indicador.

Uma das principais dificuldades é a questão estrutural de cada granja, galpão, tipos de comedouros e sistema de produção (gaiolas, aves Cage Free), afinal, quando falamos em consumo de ração, cada estrutura demanda ações e equipamentos específicos para que consigamos ter um indicador confiável. É o consumo de ração que nos permitirá mensurar a ingestão de cada nutriente e, especialmente, dos aminoácidos em mg/dia, nos dando a real noção da quantidade de nutriente que o animal está ingerindo.

No gráfico abaixo está uma simulação, considerando um lote de aves consumindo uma ração com níveis de metionina + cistina digestível de acordo com a recomendação do manual da linhagem para o período de início de produção (0,7% metionina + cistina dig). Quando passamos a medir com precisão o consumo de ração, conseguimos mensurar em mg/dia a ingestão diária deste nutriente.

consumo de ração

Ao comparar com o que a ave deveria estar consumindo de fato, notamos que o animal ficou numa situação de deficiência no início de produção e, após as 26 semanas de idade, em situação de excesso. Esse tipo de mensuração e cálculo de consumo são extremamente simples e nos permitem maior acerto na elaboração de programas nutricionais.

Neste exemplo hipotético, seria possível trabalhar com uma ração mais carregada em aminoácidos sulfurados até 26 semanas e, após esse período, reduzir os níveis desses aminoácidos. Ainda pensando neste exemplo, outra informação que nos ajuda a definir os níveis de aminoácidos, seria o cruzamento dos dados de consumo dos mesmos com produção de ovos, peso de ovos e percentual de peito e gordura das aves, sendo que este último indicador deve ser coletado a campo, através de necropsias em aves com o peso médio do lote.

Hoje os novos manuais das linhagens trazem as exigências diárias dos nutrientes das aves em mg/dia, o que é extremamente importante e facilita o trabalho do nutricionista.

Diversos estudos têm sido realizados no Centro de Pesquisas da Agroceres Multimix para definir a melhor recomendação de exigências de aminoácidos. Esse é um tema que demanda atenção, pois as exigências de aminoácidos são extremamente variáveis e dependentes da fase de produção, clima, ambiência, massa e produção de ovos.

Referências

Amino Acids in Animal Nutrition, 2nd Edition by J. P. F. D’Mello
Commercial poultry nutrition, Lesson & Summers
Centro de pesquisas Agroceres Multimix,
Manuais de linhagens Lohmann, Bovans e Hy-line
Tabelas brasileiras para aves e suínos, 2017 4° edição

 

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