Vacas de descarte: cuidando da cria, o que fazer?
O abate de fêmeas tem participação significativa no total de animais abatidos, oscilando para mais ou para menos de acordo com o ciclo pecuário, no qual, independente do cenário, é fato que, ao término da estação de monta, existirão matrizes que serão descartadas, seja por problemas reprodutivos, baixa habilidade materna ou idade avançada.
Normalmente, o descarte de matrizes e sua oferta para o mercado se concentra na entressafra da oferta de boi gordo, porém, se não tratadas, essa carne não é valorizada pelas indústrias frigoríficas, devido à baixa qualidade das carcaças (sem acabamento e baixo rendimento de cortes).
Sendo assim, pensando em elevar a receita e a taxa de desfrute da fazenda, alguns pecuaristas investem na terminação dessas vacas de descarte, melhorando a qualidade de carcaça e permitindo o incremento da renda da propriedade com a melhor remuneração no abate.
Uma das preocupações que todo pecuarista tem na engorda de vacas de descarte é a baixa conversão alimentar – comem muito e ganham pouco –, o que encarece a diária desse animal e eleva o custo de produção. Sendo assim, definir o ponto ideal para o abate desses animais se torna fundamental e definidor do sucesso ou não da estratégia.
Precisamos saber que, após a desmama, apesar do crescimento compensatório ser uma estratégia para imprimir velocidade de ganho de peso nas vacas de descarte, precisamos entender que, parte desse ganho se dará na reconstrução das vísceras, refletindo em baixa qualidade do ganho de peso (baixo rendimento do ganho), ou seja, períodos muito curtos de engorda resultam em ganhos altos com rendimentos baixos (Figura 1).
Por outro lado, a partir de dado ponto, à medida que se aumenta o tempo da suplementação, seja dieta total ou ração seca, vemos uma piora significativa na eficiência alimentar (kg de MS/@ produzida), principalmente em função da alteração na composição do ganho, com a deposição de gordura na carcaça. O problema nesse caso é que, em fêmeas adultas, o maior acúmulo de gordura acontece na forma de gordura inguinal/úbere e gordura renal, componentes descartados da carcaça e sem valor comercial para o produtor.
Dito isso, entendemos o porquê o termo “alisou, morreu”, se aplica muito bem a vacas de descarte, e traduzem em maior rentabilidade. O objetivo então deve ser: colocar de 2 a 3@, para aumentar o peso de abate e colocar o mínimo requerido de acabamento (3mm de espessura de gordura).
Para dar números (“um norte”) na engorda de fêmeas, foi realizado um experimento na Apta de Colina/SP, avaliando diferentes tempos de suplementação (21, 42 e 63 dias) e a viabilidade econômica de cada um (Tabela 1). Considerando o custo da carcaça produzida e a rentabilidade da arroba vendida ao frigorífico, os animais tratados por 42 dias resultaram em melhor retorno econômico, depositando mais carcaça em relação ao consumo de suplemento. Como já discutido, animais abatidos com 21 dias apresentaram pior eficiência biológica devido à recuperação de órgãos, vísceras e ajustes metabólicos e, aqueles abatidos com 63 dias, já estavam no período de maior deposição de gordura.
Tabela 1. Desempenho de vacas Nelores terminadas em diferentes tempos de suplementação de alto consumo a pasto
Variáveis | Dias de Trato | ||
21 | 42 | 63 | |
Consumo Suplemento, kg/dia | 5,9 | 6,1 | 6,1 |
GMD, kg/dia | 0,9 | 1,6 | 1,1 |
GMD Carcaça, kg/dia | 0,8 | 1,0 | 0,7 |
Fonte: JANINI, 2017.
Pensando nas estratégias nutricionais para a engorda dos animais, visto o período do ano (seca), o confinamento se torna uma das opções, liberando área de pastagem para as matrizes prenhes. O gargalo/desafio de confinar vacas de descarte é a alta taxa de refugo de cocho, que pode chegar até 25% em alguns casos. Sendo assim, precisamos adotar algumas estratégias para diminuir essa taxa de refugo, como: utilização de rolão de feno no fundo dos piquetes, dietas mais úmidas e volumosas, piquetes com área de fuga com pastagem, entre outros. Apesar de serem estratégias interessantes e que minimizam o refugo de cocho, todas podem prolongar o tempo de trato, aumentando o custo operacional. Temos ainda que, por ser minoria no confinamento, dificilmente esses animais terão uma dieta formulada para atender suas exigências específicas (dificuldade operacional em trabalhar com muitas dietas).
Nesse contexto, a TIP (terminação intensiva a pasto) de vacas, tem sido bastante utilizada hoje em dia, na qual, a facilidade de adaptação ao cocho e menor custo operacional, são características que tornam a estratégia extremamente interessante para engorda de fêmeas. Não entraremos no assunto TIP neste texto, uma vez que, existem outros textos disponíveis no agBlog tratando deste assunto mais a fundo.
Por fim, a oportunidade de receita adicional em uma fazenda de cria deve ser vista como oportunidade de negócio, uma vez que, “vacas de descarte” têm um grande potencial para se tornar uma importante fonte de renda através da produção de carne, e não como um mero descarte do sistema de produção de bezerros.
Nutrição Animal – Agroceres Multimix
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