A fibra, como nutriente na alimentação animal, precisamente na alimentação de suínos, sempre foi avaliada de forma negativa nas dietas, sendo sua ação associada à baixa digestibilidade, ou como um nutriente que pode prejudicar os processos digestivos, principalmente em dietas para leitões. No entanto, a discussão das fibras dietéticas, ou fibras funcionais, de primeira ou segunda geração, vem ganhando espaço nos fóruns e trabalhos científicos da área de nutrição de suínos, nos quais alguns paradigmas vêm sendo quebrados e, a fibra como nutriente, vem mostrando aspectos positivos que podem ser explorados na nutrição de suínos.
No passado, o uso das fibras na alimentação de suínos era focado na fase de gestação, com objetivo de produzir efeito físico e saciedade, melhora na qualidade de fezes e trânsito intestinal. Em um segundo momento, o uso de fibras foi utilizado para controle de energia das dietas e do escore corporal de fêmeas, sempre focado nas fases de gestação e/ou reposição, explorando, na sua grande maioria, as características físicas das fibras e não a sua função nutricional.
No entanto, recentemente, vários artigos e revisões (TIAN et al., 2020) têm discutido o uso de fibras como nutriente alternativo, explorando seu potencial nutricional, que até o momento era pouco observado pela nutrição de suínos. Em um primeiro momento, tivemos contato com as chamadas “fibras de primeira geração”, que são ingredientes fibrosos e que na sua composição, em sua maioria, possuem fibras insolúveis, porém, com baixo potencial de contaminação por micotoxinas, podendo ser uma alternativa aos atuais ingredientes trabalhados nas fases reprodutivas, como farelo de trigo. Dessa forma, esse novo conceito de alimento fibroso veio pouco a pouco ganhando espaço e se mostrando alternativa à principal fonte de fibra utilizada na alimentação de suínos.
Com o passar do tempo – e maior conhecimento científico das funcionalidades das fibras -, foram agregados novos conceitos e formas de utilização dessas fibras, sendo possível identificar que elas poderiam auxiliar em processos fermentativos a nível de intestino grosso (PATIL et al., 2020), e que as chamadas “fibras de segunda geração”, por serem consideradas fibras com características mais solúveis, poderiam não somente auxiliar nos processos fermentativos no intestino grosso, mas também auxiliar na modulação da microbiota intestinal. De acordo com Jarret e Asworth (2018), sobre condições ambientais específicas, as fibras dietéticas podem ser fermentadas e utilizadas por bactérias anaeróbicas e produzir uma série de metabólitos como ácidos graxos e, especialmente, acetato, propionato e butirato.
Assim, o uso de fibras dietéticas, solúvel ou insolúvel, podem favorecer ou não os processos fermentativos, dependendo da característica fermentativa da fibra trabalhada na dieta de suínos. A fermentação microbiana pode favorecer a produção de metabólitos e auxiliar a microbiota intestinal a se desenvolver ainda mais e, como consequência, fortalecer a saúde intestinal dos suínos. Dessa forma, forma as propriedades físico-químicas das fontes de fibra dietética podem levar a variações do ambiente intestinal, alterando o crescimento da microbiota intestinal. Fatores, como: solubilidade, viscosidade, fermentabilidade, tamanho de partícula, lignificação e nível de inclusão nas dietas, são exemplos que podem afetar o grau de fermentabilidade da fibra pela microbiota do intestino e sua utilização e absorção de ácidos graxos voláteis (AGV’s) (KNUDSEN, 2001; ZHAO et al., 2019).
Avaliando alguns desses fatores, Li et al. (2019), estudaram a melhor relação entre “fibra insolúvel (FIS)/fibra solúvel (FS)” e como as fibras dietéticas afetaram os parâmetros reprodutivos de fêmeas em reprodução. Esses autores avaliaram quatro relações de fibra insolúvel/solúvel (FIS:FS): 3,89; 5,59; 9,12 e 12,81, e como essas relações afetariam as fêmeas em gestação e lactação. Nessa pesquisa, foi observado que a dieta com menor relação (3,89), foi a que apresentou melhores resultados reprodutivos, sendo que o maior peso dos leitões ao nascimento e desmame foi obtido nas fêmeas que consumiram a menor relação FIS:FS na fase de gestação.
Já Shang et al., (2019), avaliando diferentes fontes de fibras, como polpa de beterraba (fibra solúvel) e farelo de trigo (fibra insolúvel), no terço final de gestação. A partir dos 85 dias, e na lactação, observaram resultados positivos com a utilização da polpa de beterraba em comparação ao tratamento controle, sem o uso de fibras, indicando maior consumo na lactação, peso da leitegada ao nascimento, peso do leitão ao desmame, e maior ganho de peso ao desmame. A fibra insolúvel, que seria o tratamento com farelo de trigo, apenas aumentou o valor de interleucina 10 (IL-10) no leite em comparação ao controle. Assim, de forma geral, a polpa de beterraba foi mais eficiente do que o farelo de trigo, melhorando a qualidade do leite, o desempenho da leitegada e as funções de barreira intestinal.
De acordo com os trabalhos apresentados acima, o uso de fibras dietéticas vem se mostrando uma ferramenta positiva na nutrição de fêmeas em reprodução, porém fatores como solubilidade, inclusão, relações insolúvel/solúvel e viscosidade, devem ser observados nas formulações e sempre associar esses fatores aos objetivos de sua utilização nas dietas. Assim, fica a cargo do nutricionista a escolha do tipo de fibra a ser trabalhada, inclusão e melhor momento de uso, sempre buscando explorar as características positivas dessas fibras dietéticas, visando bem-estar e saúde intestinal dos animais.
WDG na alimentação de suínos dá bom resultado?
Não temos estudos com o uso do WDG para suínos em nossas instalações, porém como é um produto de alta umidade, isto dificulta o uso para suínos e pode favorecer o crescimento biológico durante sua armazenagem, prejudicando assim seu tempo de uso e qualidade deste coproduto. Desta forma, não observamos sua utilização no campo de forma corriqueira, e não temos a comprovação de sua eficiência para suínos.
Porém, com a utilização de tecnologias de secagem no processamento de fermentação do milho, é possível a obtenção do DDG, que seria um produto mais estável e de boa qualidade nutricional, sendo que sua utilização vem crescendo, e com resultados positivos na produção de suínos no país.
Com relação ao DDG temos mais informações no artigo abaixo:
https://agroceresmultimix.com.br/blog/utilizacao-de-ddg-de-milho-na-suinocultura-uma-abordagem-pratica/