Granulometria da ração: a importância deste detalhe no desempenho zootécnico e comportamental
Uma formulação bem ajustada, nutricionalmente, não é suficiente para explorar o máximo de desempenho produtivo das poedeiras comerciais. A nutrição de precisão é muito maior do que apenas conhecer as matérias-primas e realizar ajustes na formulação. O processo fabril e, principalmente, a granulometria da ração têm efeito muito relevante no desempenho zootécnico e comportamental das aves de postura.
As galinhas são classificadas como animais onívoros, ou seja, possuem capacidade para ingerir e metabolizar diferentes tipos de alimentos. Além de demonstrarem interesse pela cor dos alimentos, possuem preferência por partículas de alimentos maiores. Segundo Filho J.A.V. (2013), as poedeiras são pouco influenciadas pelo cheiro e sabor, pois apresentam poucos receptores químicos para o olfato e paladar, porém, apresentam receptores mecânicos no palato superior. O estímulo do alimento nesses receptores desencadeia o processo de motilidade e de secreções enzimáticas.
Diversos estudos mostram que a granulometria da ração tem influência direta na digestibilidade dos nutrientes, na motilidade e trânsito intestinal, e na secreção de enzimas digestivas. Quando o alimento é fornecido na granulometria adequada ele permanece por mais tempo na moela e, consequentemente, recebe maior ação mecânica, e maiores quantidades de enzimas digestivas secretadas pelo proventrículo.
Além da questão fisiológica e de melhora na digestibilidade e aproveitamento de nutrientes, a estrutura física da ração tem forte influência no comportamento das aves. Rações com melhor estrutura física, ou seja, com partículas de tamanho adequado, ajudam as aves a ficarem mais calmas. Isso é explicado pelo tempo gasto na alimentação. Quanto mais fina a dieta, menos tempo a ave leva para consumi-la, além de apresentar efeito negativo no consumo de ração ficando mais tempo em ócio, o que pode desencadear o comportamento de bicagem.
Problemas relacionados à granulometria da ração:
O fornecimento de uma dieta com granulometria adequada na recria tem impacto direto na capacidade de consumo das aves e, consequentemente, reduz o risco de bicagem, principalmente no início de postura. Aves que recebem ração com granulometria adequada nas fases de crescimento (de 7 a 15 semanas) desenvolvem uma melhor capacidade de ingestão de ração, importante em um dos períodos mais críticos que é a escalada para o pico de produção de ovos (17 a 28 semanas de idade). Nessa fase as galinhas apresentam uma elevada exigência nutricional, pois estão aumentando com rapidez a produção de ovos e ainda não atingiram o peso corporal de uma ave adulta, ou seja, qualquer ganho em capacidade de consumo ajudará esses animais a passarem por esse período, sem que ocorram perda de reserva corporal e, consequentemente, perdas produtivas.
Em casos de rações com elevada presença de finos (DGM < 400µm), além da redução no consumo de ração, temos aumento de pó que pode causar o surgimento de problemas respiratórios. Outro problema comum de acontecer é o acúmulo de ração nas comensuras dos bicos, que pode evoluir para quadros de aftas (foto abaixo) (MIRANDA. D.J.A., 2011).
Em casos de dietas com elevada quantidade de partículas, acima de 3mm, pode ocasionar problema com a seleção de ração, levando à perda de desempenho e desequilíbrio nutricional.
Outro problema que pode ocorrer em dietas com excesso de partículas grossas (>3mm) seria a segregação de partículas, principalmente em granjas que apresentam transportadores de ração tipo mola (helicoidal), em que as partículas maiores acabam se separando das menores causando desbalanço nutricional.
Estudos realizados mostraram que aves alimentadas com rações com excesso de partículas grossas (55% de partículas acima de 2mm) aumentaram o comportamento de bicagem, quando comparado com tratamento com ração de 13% de partículas acima de 2mm (Walser, et. al 2001). Baseado nesses estudos, recomenda-se que as rações para poedeiras possuam uma distribuição de partículas entre 0,25 e 2 mm.
Recomendações de tamanho de partícula:
Tamanho de partícula | Pré Inicial (1 a 3 semanas) | Inicial (3 a 6 semanas) | Crescimento (6 a 10 semanas) | Maturidade (11 a 15 semanas) | Produção |
0 – 1 mm | 25% | 25% | 25% | 25% | |
1 – 2 mm | Ração peletizada triturada | 70% | 65% | 35% | 35% |
2 -3 mm | 5% | 10% | 35% | 35% | |
3 – 4 mm | – | – | 5% | 5% | |
DGM | 700 – 800** | 800 – 900 | 900 – 1100 | 1000 – 1200 | 1100 – 1200 |
*Adaptado do Manual de manejo Hy-Line Brown 2014.**Valor indicado no caso de uso de rações fareladas na fase inicial.
Análise de DGM:
A análise de DGM consiste em avaliar o diâmetro geométrico médio das partículas de uma determinada ração. Essa análise é amplamente utilizada para a avaliação da granulometria de rações. Os valores de DGM são utilizados como referência para recomendações de granulometria nas diversas fases de criação. Além do DGM é importante avaliar o DPG, que mede o intervalo de variação entre as partículas. Através da análise do desvio geométrico padrão (DPG) podemos inferir se uma ração apresenta menor ou maior uniformidade entre as partículas.
Por ser uma análise relativamente simples, barata e rápida de ser realizada, recomenda-se que a análise de DGM das rações e do milho moído na fábrica seja realizada periodicamente. O acompanhamento do DGM deve ser utilizado como um importante indicador de qualidade de ração. O acompanhamento desse indicador pode ajudar a identificar problemas com desgaste de martelos e peneiras, regulagem de moinho, gasto energia elétrica, qualidade de matéria-prima, etc.
Moagem:
No Brasil, as dietas de poedeiras comerciais são – em sua maioria – produzidas com milho e farelo de soja, farelo de trigo, fosfato/farinha de carne, sal e premix. Quando pensamos em ajuste de granulometria em dietas com as matérias-primas citadas acima, o leque de opções para ajuste de granulometria recai somente sobre o milho e o farelo de soja (quando peletizado), que são os únicos ingredientes que temos como alterar sua granulometria através da moagem.
Praticamente todas as granjas no Brasil utilizam moinhos de martelos. Esse tipo de moinho – normalmente – é bastante eficiente no quesito moagem, quando comparados aos demais tipos de moinhos disponíveis. Porém, são equipamentos que demandam uma atenção em sua regulagem, para que seja possível atingir a moagem mais adequada para as poedeiras. Normalmente, são moinhos de alta rotação com alta velocidade periférica que, mesmo alterando as configurações de peneiras e martelos, podem apresentar uma dispersão de partículas inadequada para as poedeiras. A granulometria do milho moído é influenciada por diversos fatores, como: número de martelos, desgastes dos martelos, distância entre o martelo e a peneira, aspiração do moinho, diâmetro dos furos das peneiras, área de abertura da peneira, umidade do grão, etc. Existem muitos ajustes e regulagens que podem ser feitos para melhorar a granulometria do milho moído nesse tipo de moinho e, quando realizadas por especialistas, permitem consideráveis melhoras.
Conclusões
Nos atuais sistemas de produção, o controle sobre a granulometria das rações fornecidas nas diversas fases deve ser acompanhado de perto, além disso o uso dos indicadores de DGM e DPG devem ser usados para monitorar a qualidade da granulometria das rações. As dietas devem apresentar uma boa e uniforme dispersão de tamanho de partículas, permitindo que as aves expressem todo seu potencial.
Nutrição Animal – Agroceres Multimix
Referencias:
CASTRO, P.P.P, BRAZ, C., FURLAN, R.L., CURTARELLI, S.M., KRONKA, S.N., MACARI, M. Comportamento alimentar de frangos de corte em função da granulometria do milho. (1991)
FILHO, J.A.V. Granulometria e textura do milho em dietas para poedeiras comerciais: consumo de energia elétrica, desempenho e qualidade de ovos. 2013. Dissertação (mestrado) – Unesp campus de Botucatu
MACARI, M. Fisiologia aviária aplicada para frangos de corte. 2° edição. Jaboticabal: FUNEP/UNESP, 2002. 375p
MIRANDA, D.J.A. Efeito da granulometria do milho e do valor de energia metabolizável em rações peletizadas para frangos de corte. 2011. Dissertação (mestrado) – UFMG
M.M. VAN KRIMPEN, R.P. KWAKKEL, B.F.J. REUVEKAMP, et.al., Impact of feeding management on feather pecking in laying hens. World´s Poultry Science Journal, v.61, p 663 – 686, 2005.
WALSER, P. and PFIRTER, H.P. Feed structure influences behaviour of laying hens. Proceedings of the 6th European symposium on poultry welfare. 2001.