A seca chegou e as definições das estratégias nutricionais para passar por esse período do ano já estão sobre a mesa ou estão sendo alinhadas com o objetivo de fazer com que os animais não percam peso ou pelo menos mantenham o que foi construído até aqui.
Automaticamente, quando falamos em estratégias nutricionais, vem em mente a suplementação. Ela de fato deve fazer parte de uma estratégia nutricional, mas é importante ressaltar que suplementação sozinha não faz milagre, e sabe por quê?
Suplementação por definição é a ação ou efeito de suplementar, complementar, de suprir o que está em falta.
No contexto da pecuária, a suplementação de animais criados a pasto visa fornecer nutrientes que o pasto, por si só, não consegue oferecer em quantidade e qualidade suficientes para atingir os objetivos produtivos definidos.
Embora possa parecer evidente, é importante reforçar: o pasto é o principal alimento desses animais, responsável por suprir a maior parte da proteína e energia exigidos pelos animais (Figura 1). No entanto, ele nem sempre supre todas as exigências nutricionais, especialmente em períodos críticos como a seca. Por isso, a suplementação torna-se uma ferramenta essencial para manter o desempenho dos animais.

Olhando para o pasto (seco)
A forragem precisa de luz, temperatura e umidade adequadas para crescer. No Brasil existem 4 estações ao longo do ano (primavera, verão, outono e inverno), que provocam alterações climáticas que influenciam diretamente a produção de forragem. No período seco do ano, em que a chuva cessa, a temperatura cai e os dias ficam mais curtos, as pastagens perdem a qualidade e passam a ser caracterizadas principalmente pelo baixo teor de proteína bruta (PB) e pela elevada lignina na fibra em detergente neutro (FDN) (Figura 2).

Essas limitações nutricionais, inter-relacionadas, irão impactar diretamente o consumo dos animais e com isso seu desempenho uma vez que:
1º) O baixo teor de proteína bruta do pasto na seca, principalmente compostos nitrogenados, vai prejudicar o crescimento das bactérias no rúmen, comprometendo a degradação da forragem. Essas bactérias precisam ao redor de 7% a 8% de proteína bruta para terem capacidade de degradar forragens de baixa qualidade, um pasto na seca apresenta, em média, de 4 a 6% de proteína bruta.
2º) A elevada quantidade de FDN, uma fibra insolúvel e de degradação lenta, composta por celulose, hemicelulose e lignina, causa um efeito de enchimento ruminal (controle físico de consumo), agravado pelo reduzido crescimento microbiano. O alimento fica retido por mais tempo no rúmen do animal, limitando o consumo diário do animal.
O papel da suplementação
Devido ao cenário dos pastos no período da seca (baixa proteína e elevada fibra), o objetivo da suplementação deve ter como objetivo principal fornecer compostos nitrogenados (proteína) que permitam o funcionamento eficiente das bactérias ruminais, em especial as fibrolíticas – responsáveis pela degradação da celulose e hemicelulose presentes na fração fibrosa da forragem.
Assim, o primeiro passo de uma suplementação estratégica na seca, seria o oferecer um suplemento proteico que, em conjunto com o pasto, garanta entre 7% e 8% de proteína bruta para as bactérias ruminais, proporcionado condições adequadas para que possam “trabalhar”, degradando as frações da fibra com potencial para serem digeridas. É importante destacar que, ao contrário do que podemos imaginar, níveis de proteína bruta acima de 8% não aumentam a degradação da fibra potencialmente digestível.
E se aumentarmos o teor de proteína?
Níveis de proteína bruta ao redor de 12 e 14% significam mais substrato para os microrganismos ruminais se multiplicarem no rúmen. Com mais bactérias no rúmen, a fibra com potencial para ser digerida é degradada com mais velocidade. Isso acelera a taxa de passagem do alimento, liberando espaço no rúmen, estimulando o consumo do animal. Ou seja, o animal come mais, e com isso, mais energia oriunda do pasto passa a ser aproveitada tanto pelas bactérias quanto pelo próprio animal, o que reflete em melhor desempenho produtivo.
Dica prática: observe as fezes
As fezes podem ser uma ferramenta valiosa para avaliar se as bactérias ruminais estão recebendo proteína suficiente. O ideal é observas fezes pastosas (Figura 3) e animais defecando ao se levantar ou caminhar, como normalmente observamos no confinamento.
Por outro lado, animais com fezes aneladas e secas (Figura 4), que defecam pouco, podem estar com a fermentação ruminal comprometida – geralmente pela falta de proteína.


Em resumo:
Quando o rúmen recebe entre 7 e 8% de proteína bruta: ocorre o nível máximo de degradação da fibra com potencialmente digestível.
Já com níveis entre 12 e 14% de proteína bruta, há um aumento na velocidade de degradação da fibra, o que eleva a taxa de passagem e melhora o consumo de matéria seca, favorecendo o desempenho animal
Além disso, observar o escore de fezes pode ser uma ferramenta útil para avaliar se a nutrição do animal está adequada.