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Por que intensificar a pecuária de corte?

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Com toda a certeza você já ouviu, em algum momento, frases como:

“A pecuária precisa se intensificar!”

“O produtor que não intensificar sairá da atividade nos próximos 50 anos!”

Pois é, frases nesse sentido sempre estão nos meios de comunicação do nosso meio pecuário, não é mesmo? Mas, afinal de contas, o que é e por que intensificar a produção de arrobas dentro da porteira? Quais caminhos o pecuarista deve seguir para atingir esse objetivo?

Pois bem, ao longo do texto serão discutidos alguns pontos para “clarear as ideias” sobre a intensificação e alguns caminhos que podem ser tomados na direção do tão falado aumento de produção de arrobas/hectare por ano.

Por que intensificar a pecuária de corte?

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Por que intensificar a pecuária de corte?

Primeiro, vamos começar entendendo a palavra no seu sentido mais puro e literal. Segundo o dicionário Aurélio, intensificar significa “fazer com que algo se torne mais intenso, árduo, excessivo; intensificou sua jornada de trabalho; na empresa, o trabalho se intensificou”.

Para nós da pecuária de corte, intensificar está ligado ao melhor uso dos recursos naturais, na eficiência em produzir, ou seja, produzir mais na mesma (ou menor) área em menos tempo. Para isso, os caminhos (ferramentas) que o produtor tem a disposição envolvem genética, manejo e nutrição.

Mas, afinal, por que a intensificação dos sistemas pecuários vem sendo tão discutida nos últimos anos?

Se analisarmos as margens líquidas da pecuária ao longo do tempo, vamos ver que houve uma forte queda “no dinheiro que sobra no bolso do produtor” com a venda de 1 arroba, afinal a margem que era de 50% na década de 1970, caiu para algo entre 10 e 20% nos dias de hoje.

As margens folgadas do passado se contextualizavam por um período de expansão de fronteiras agrícolas do país, onde, em uma área recém-aberta (dada a infraestrutura precária e a dificuldade de estradas/acesso) a bovinocultura era a atividade mais facilmente implementada ali. Colonizar uma área nova com vacas ela literalmente demarcar o novo território.

Nesse período o valor da arroba do bezerro apresentava deságio em relação a arroba de boi gordo, algo  entre 20 e 30% a menos. Este era um dos fatores que influenciavam as práticas de margens altas da atividade. Falar em adoção de tecnologia na produção bovina nesse período era algo polêmico, uma vez que, além do deságio do bezerro em relação ao boi gordo, o Brasil não era uma país produtor de grãos. Esses insumos apresentavam relação de troca muito diferente das de hoje em dia, sendo que os ganhos vinham da valorização de estoque e não da produção animal.

Figura 1 – Evolução das margens líquidas: junho 1970 a julho 2022 (fonte: Athenagro)

intensificar a pecuáriaintensificar a pecuária

Nos anos 1990, mais especificamente após o plano real, quando houve a estabilidade da moeda brasileira, os valores do bezerro foram se ajustando e assistimos a uma queda drástica nas margens da atividade, que chegaram a valores entre 20 e 10%, dependendo do ano. A partir desse movimento, viu-se a necessidade de olhar para a atividade não mais como uma “poupança”, mas como uma atividade econômica, que exige que se produza com cada vez mais excelência e eficiência.

Junto com esse movimento de mercado, no início dos anos 2000 tivemos a intensificação da produção agrícola no país. Passamos de importadores a exportadores de milho, viabilizando a adoção de estratégias que até então não se justificavam.

Vimos, a partir desse período, a mudança no perfil da dieta dos animais confinados, que saiu de alto volumoso para alto grão. O aumento do tamanho das operações de confinamento e a suplementação dos animais a pasto ganharam força, abrindo um novo horizonte de possibilidades para o pecuarista. Nasce o conceito do boi 777.

Boi Gordo x Bezerro

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Por que intensificar a pecuária de corte?

Não tem como falarmos em intensificação, sem discutir os custos de produção. Muitas vezes vemos os produtores classificando os custos alimentares como ponto crucial das margens atuais, sem atentar para o fato de que o desembolso com alimentação ocupa o segundo lugar entre os maiores custos de produção da pecuária de corte, representando entre 20 e 30% do desembolso total do produtor.

Enquanto isso, o desembolso com a reposição dos animais representa aproximadamente 60% do custo de produção. A arroba do bezerro, que em meados dos anos 1970 e 1980 tinha um custo 20% menor que o da arroba do boi gordo, hoje está 20% acima (já chegou em 40% em um passado recente).

Essa mudança fica clara para o pecuarista quando ele passa a avaliar a relação de troca entre boi gordo e bezerro (figura 2). A quantidade de bezerros que pode ser comprada com a venda do boi gordo vem caindo ano a ano.

Figura 2 – Relação de troca Bezerro e Boi Gordo (fonte: Athenagro)

Pecuária de corte: a arroba de reposição

Essa redução na relação de troca do bezerro e do boi gordo ocorre devido à valorização da reposição. A arroba de reposição era desvalorizada e entrava na fazenda com deságio, gerando lucro, o que não acontece hoje.

Com a valorização da reposição, os bezerros entram na fazenda com cerca de 20% de ágio, ou seja, com a arroba custando 20% mais caro que a arroba do boi gordo, o que significa a presença de prejuízo nas arrobas que entram na fazenda. Nesse cenário, o produtor precisa agregar eficiência à sua produção para que possa ter lucro com a venda das arrobas que produz. Podendo pagar o custo carregado pela reposição.

Note que, nesse cenário de ágio da reposição, surge a necessidade de compensar esse “prejuízo” ao longo do período em que os animais ficam na propriedade.

Exemplo Prático

Vejamos o exemplo a seguir:intensificar a pecuáriaConsiderando o valor de compra da arroba do bezerro, a R$ 350,00, e de venda da arroba do boi gordo, a R$ 285,00, notamos que os bezerros entram na propriedade com uma diferença de R$ 65 a mais por arroba, ou seja, com um ágio de 22,8%. Nesse cenário, um animal com 7 arrobas chega à fazenda com R$ 455,00 de “prejuízo” (7x R$65), valor que precisará ser compensado na produção das 14 arrobas seguintes.

Para conseguir pagar o ágio nesse caso, precisaríamos produzir 1,6 arrobas. Considerando que essas arrobas seriam produzidas em um ano de recria, o ganho de peso diário necessário para pagar essa conta é de 0,131 kg.

Como podemos ver, nas margens de lucro da pecuária, o custo da reposição é um fator altamente influenciado. Representando 60% dos custos de produção, devemos trabalhar na compensação (pagamento) do ágio ao longo da recria.

Outros dois pontos importantes que refletem sobre o lucro da pecuária são os custos fixos e os custos variáveis de produção, e aqui entram os custos de manutenção da propriedade, assim como os desembolsos com a alimentação.

O aumento da produção de arrobas por hectare, através do ganho de peso individual dos animais associado ao aumento da lotação, é uma possibilidade para se diluir os custos fixos, cabendo destacar que o aumento da lotação deve ser analisado em conjunto com a produção por área, uma vez que alta lotação não se justifica sem produção.

Se você deseja conhecer mais sobre o custo do ágio, recomendamos o vídeo de Matheus Moretti sobre o assunto.

Quanto custa? – O Ágio

 

Pecuária de corte: custos variáveis

Aumentar lotação e/ou buscar o aumento do GMD se traduz em aumentar os custos variáveis. Em um primeiro momento, os produtores tendem a enxergar essas mudanças como aumento de desembolso, porém, o incremento na receita ao final do período e o aumento da escala dos animais na propriedade pagam o investimento e, ainda, refletem positivamente sobre o lucro final.

A ideia aqui é sempre desembolsar/investir em fatores ligados à geração de receita (produção), economizando em custos não relacionados a ela, como custos fixos “inflados”.

Aqui entra a prática de intensificar a pecuária usando as ferramentas disponíveis, de forma estratégica, para extrair mais resultados com os “mesmos recursos”, o que, com algumas estratégias, possibilita aumentar o giro de animais na fazenda e a produtividade por área, alcançando a diluição dos custos de produção.

Recomendamos também a leitura do artigo sobre o ajuste da taxa de lotação

Metas para uma intensificação eficaz na pecuária de corte

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Por que intensificar a pecuária de corte?

Não há uma receita de bolo. A intensificação não se resume a apenas fornecer maior aporte de suplemento aos animais, nem tampouco confiná-los.

É preciso fazer uma avaliação aprofundada da fazenda, olhando para seus processos, para dentro da porteira, onde estou e quero chegar. Ou, melhor ainda, qual é a meta de lucro por ha/ano atual e quanto quero ter de lucro por ha/ano na minha propriedade.

Muitos produtores têm, na ponta da língua, a resposta sobre o preço da arroba do boi, da saca de milho e soja, pontos sobre os quais conseguimos interferir muito pouco (isso não significa que não devemos conhecer muito bem).

Porém, tendem a mudar de assunto quando questionados sobre valores como:

      • custo da diária do animal na fazenda,
      • custo da arroba produzida na recria e na engorda,
      • custo do bezerro desmamado.

Estes são números importantes para tomada de decisão, afinal, é sobre eles que podemos atuar. É com base neles (e muitos outros) que definimos objetivos e caminhos a seguir para alcançar a meta estipulada por hectare.

Veja na Figura 3 uma simulação realizada pela Athenagro demonstrando que, quanto maior a produção de arroba por hectare, maior o lucro por hectare.

Ou seja, para ganhar mais é preciso produzir mais. Porém, com o cuidado de nunca se esquecer que isso não é regra e, intensificar e aumentar a produção de arrobas por hectare, é um processo de ganhos consecutivos e consistentes, que demanda aprendizado e, por isso, exige entender a fazenda e definir metas.

Aqui vale a reflexão: onde você está e quer chegar? Afinal, até o Waze precisa do seu ponto de partida para te levar ao seu destino!

Figura 3 – Lucro R$/há/ano Recria e Engorda em 2022 (fonte: Athenagro)

Se você deseja aprender mais sobre avaliar os custos diários da sua fazenda, recomendamos que assista a série completa “Quanto Custa” com Matheus Moretti.

Quanto Custa?

Estratégias para intensificação na pecuária de corte

Agora que você já sabe que intensificar a pecuária é uma necessidade dentro da porteira, vamos citar aqui algumas estratégias que deveriam estar na sua mesa.

Por que intensificar a pecuária de corte?

Manejo de pasto

Aqui está um importante gargalo das propriedades, que pode ser sanado com treinamento de pessoal para essa finalidade (trabalho de altura de entrada e saída).

Manejar pasto significa colher o capim no momento adequado, ofertando ao animal uma estrutura de pasto que favoreça a formação do bocado, contribuindo diretamente para a eficiência de pastejo, uso da área e ganho de peso dos animais.

A melhor “qualidade” da oferta de forragem, oferta de folhas, favorece o tamanho de bocado, fazendo com que os animais tenham mais eficiência de pastejo, levando a um maior ganho de peso individual. Pensando em eficiência de colheita e acerto sobre o momento de entrada e saída dos animais, ter uma área dividida em piquetes para rotacionar os animais favorecerá o manejo do pasto.

Adubação de pastagens

Considerando que o solo esteja corrigido para os demais nutrientes, a adubação nitrogenada acelera o crescimento do pasto, conferindo à área a capacidade de suportar mais animais.

Claro que é preciso levar em consideração o desembolso do custo de adubação, que vai depender dos valores de mercado de cada região. Aqui, vale algumas ressalvas: com a adubação você precisará de mais animais para colher aquela pastagem, o que nos traz como ponto de atenção as condições disponíveis para a compra de novos animais.

De nada irá adiantar ter quantidade de pastagem e não ter animais para colher no ponto adequado. Outro aspecto é o planejamento alimentar do período das secas para que os animais não regridam em desempenho.

Suplementação dos bovinos de corte

De maneira geral, as forragens podem apresentar baixos níveis de alguns elementos nutricionais, principalmente no período seco do ano.

Compostos nitrogenados e proteína bruta são essenciais para o bom funcionamento do rúmen, que demanda “certo sincronismo” de elementos para manutenção do crescimento microbiano (Detmann et al., 2009).  Quando o rúmen está desajustado, há reflexos diretos sobre a redução da digestão de fibras, o que, por consequência, pode comprometer o desempenho dos animais.

Essas limitações de nutrientes são facilmente supridas com programas de suplementação, de acordo com as necessidades de cada pastagem e com o objetivo de cada sistema de produção. O efeito interativo da suplementação se reflete sobre a cadeia, proporcionando maior disponibilidade de substratos e promovendo maior síntese de microrganismos, que promovem degradação das fibras, proporcionando disponibilidade de energia utilizada no crescimento microbiano e animal.

Para complementar seu conhecimento sobre o rúmen, recomendamos:

As estratégias de suplementação variam conforme o objetivo do sistema de produção e a realidade estrutural da propriedade, sempre atentando ao ponto de partida e focando onde desejamos chegar. Entre as estratégias existentes, temos desde os suplementos de baixo consumo, como mineral adensado e proteinado (com formulações bem ajustadas em proteína e ureia, além de ter aditivos alimentares) que contribuem  otimizando os processos do rúmen, melhorando a digestibilidade e uso da forragem consumida pelo animal.

Os proteicos energéticos, além de serem uma ferramenta de ajuste do rúmen, aceleram o GMD dos animais. Alguns projetos mais intensivos vêm se destacando, associando ao GMD individual o aumento da lotação, estrategicamente utilizando uma suplementação elevada dos animais, conhecido como RIP (0,7 a 1,0% do PV).

Para complementar seu conhecimento sobre manejo de pastagem, recomendamos que assista ao vídeo abaixo:

Geração agPastto: Cuidados para um bom manejo do pasto

Conclusões

Lembre-se que a meta produtiva (@/ha/ano) sempre precisa ser avaliada a partir das possibilidades de cada sistema de produção, de cada realidade de região e de cada ano. Daí a importância da gestão dos seus índices, resultados, planejamento e avaliação sobre se o planejado foi cumprido, ou não, e o motivo pelos quais não se atingiu o desejado.

Aqui citamos alguns pontos sobre a intensificação, mas precisamos sempre olhar para dentro da porteira e realizar a gestão dos números para que a intensificação seja realizada de maneira real e produtiva.

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