A pododermatite é uma das principais enfermidades que acometem os membros de sustentação das aves e caracteriza-se por uma lesão inflamatória na superfície plantar dos pés das aves.
A lesão se inicia com uma erosão na pele, como se fosse uma marca de sujeira, e posteriormente, uma vez que a pele é lesionada, pode progredir para casos mais graves como ulcerações.
O aparecimento da lesão está associado a fatores corrosivos presentes na cama, oriundos do processo de deterioração, em que bactérias degradam o ácido úrico excretado pelas aves, gerando compostos amoniacais que podem irritar quimicamente a pele das aves (Bilgili et al., 2009). Isto está relacionado ao acúmulo de excrementos, ocasionado pela alta densidade de alojamento, muitas vezes equivocadamente adotada com o objetivo de maximizar ganhos e reduzir custos nas criações.
A incidência da pododermatite vem sendo utilizada como critério de auditoria nas avaliações de bem-estar dos sistemas de produção de aves na Europa e nos Estados Unidos (Teixeira, 2008; Bernardi, 2011), onde utilizam-se metodologias específicas para avaliar o grau de severidade das lesões. A metodologia da Welfare Quality – Assessment protocol for poultry (figura 1), por exemplo, utiliza uma escala de 5 pontos, sendo:
- grau zero, indicação de ausência de lesão;
- graus 1 e 2, mínima evidência de lesão; e
- graus 3 e 4, lesões severas.
Esses parâmetros são importantes, uma vez que, dependendo da gravidade das lesões, podem causar claudicação e dificuldade de locomoção, restringindo o acesso das aves a alimento e água, como também podendo servir como porta de entrada para bactérias e outras infecções (Teixeira, 2008).
Os pés vêm adquirindo importância cada vez maior no mercado de produtos avícolas, uma vez que são exportados como cortes especiais para países asiáticos, onde são considerados iguarias da culinária local (Rodrigues, 2008). Porém, a sua comercialização só é possível se o produto estiver dentro dos padrões de qualidade.
Definitivamente, a pododermatite impacta negativamente a indústria avícola, pelos atrasos gerados no processo industrial, assim como pela depreciação do valor do produto final (Lopes et al., 2012), além do desencadeamento de associações negativas aos índices de desempenho e qualidade de carcaça (Taira et al., 2013; Jong et al., 2014).
Causas da Pododermatite
O principal fator desencadeante da pododermatite é o teor de umidade. Como a cama sofre mudanças físicas, pode ocorrer impacto sobre as condições de superfície, através da compactação e/ou emplastamento.
Da mesma forma, o aumento populacional normalmente resulta em aumento de:
- temperatura,
- umidade,
- concentração de CO2 e amônia,
- com degradação da qualidade do ar e das camas (Garcia et al., 2002; Cristo et al., 2017).
Estas alterações no ambiente promovem a formação de uma crosta a partir do exsudato, detritos e matéria fecal, que recobrem as lesões, propiciando o desenvolvimento de bactérias (Nagaraj et al., 2007; Medeiros et al., 2008).
Estudos com nutrição mostram que determinados ingredientes e/ou nutrientes também podem interferir na incidência de lesões.
Dietas com níveis elevados de farelo de soja, podem aumentar a viscosidade do intestino e afetar a consistência das excretas (Vieira, 2009; Mendes & Komiyama, 2011).
Shepherd & Fairchild (2010) comprovaram que alguns nutrientes como biotina, riboflavina, ácido pantatênico e aminoácidos sulfurados têm efeito sobre os componentes estruturais da pele e suas deficiências têm sido correlacionadas com a pododermatite.
Causas Indiretas
Outros fatores podem ser incluídos como causas indiretas da ocorrência de lesões. Nowaczewski et al. (2011) observaram que as aves mantidas em maravalha tiveram menos lesões comparados a outros tipos de cama, como a palha de trigo.
Estudos relacionados a estação do ano comprovam que a incidência de pododermatite é maior nos meses de inverno, e a melhor qualidade dos pés de frango ocorre no verão, seguido do outono (Shepherd & Fairchild, 2010; Musilová et al., 2013).
Isso se deve a falhas no manejo da ambiência dentro dos galpões, onde, nos meses de inverno, operam mais fechados e, na maioria das vezes, não é realizada a ventilação mínima adequada, refletindo em cama mais úmida.
O sexo e o peso dos frangos também são possíveis fatores para o aparecimento de lesões, sendo que os machos tendem a ter maior incidência e maior gravidade de lesões, comparados às fêmeas. Esta condição pode estar relacionada ao tamanho do corpo, porque os machos são normalmente mais pesados que as fêmeas e, portanto, mais peso é colocado sobre os pés a cama (Shepherd & Fairchild, 2010; Sarica et al., 2014).
Como os frangos de corte passam a maior parte de suas vidas em contato com algum tipo de material de cama e com excretas que formam parte da superfície da mesma, o melhoramento nas técnicas de manejo pode contribuir para a diminuição na incidência de pododermatite (Junior & Macari, 2000).
Apesar da reutilização da cama por vários lotes subsequentes ser muito comum, a utilização de algum tipo de tratamento é fundamental para a redução da carga bacteriana (Dai Prá & Roll, 2014), bem como a adoção de técnicas de ambiência que assegurem a qualidade do ambiente (temperatura e umidade relativa do ar), a suplementação de nutrientes estratégicos que possam melhorar a absorção intestinal e redução da excreção no ambiente e a correta densidade populacional das aves.