O uso de antimicrobianos como promotores de desempenho tem como base:
- a inibição de infecções subclínicas,
- redução de metabólitos microbianos tóxicos (amônia, fenóis, produtos da degradação de bile),
- redução do uso de nutrientes por parte dos microrganismos, principalmente os residentes do intestino delgado,
- reduzindo o ciclo celular e inflamação e, consequentemente,
- melhorando o aproveitamento de nutrientes pelo animal.
Os promotores de desempenho têm sido utilizados na suinocultura desde 1950, atuando na eliminação, ou redução de bactérias patogênicas, bem como promoção do crescimento via modulação de bactérias comensais. Em geral, os promotores de desempenho modificam a composição e a atividade da microbiota intestinal, que compete por nutrientes com o hospedeiro.
A microbiota do trato gastrointestinal dos suínos é composta por mais de 60 gêneros bacterianos que estão em equilíbrio entre si e com o hospedeiro. Dessa forma, a presença de uma microbiota diversa e coesa é de extrema importância para o bem-estar animal e possibilita a expressão da máxima eficiência produtiva.
Estabelecimento da Microbiota Intestinal
O estabelecimento da microbiota intestinal é influenciado por inúmeros fatores, como:
• pH intestinal,
• disponibilidade de substratos,
• secreção de muco,
• peristaltismo,
• adesão bacteriana,
• dieta e tempo de trânsito ao longo do trato gastrointestinal.
Além disso, envolve processos complexos de sucessão microbiana, bem como as interações da microbiota com o hospedeiro, gerando, assim, populações densas e estáveis que habitam regiões específicas do intestino.
O processo inicial de colonização se dá já no momento do nascimento, quando o leitão entra em contato com os microrganismos presentes no canal de parto. Após isso, a amamentação e o contato direto com o ambiente são as fontes principais de colonização do trato gastrointestinal.
A microbiota intestinal desempenha um papel importante na função intestinal normal e na manutenção da saúde do hospedeiro. Animais gnotobióticos, recém-nascidos e desmamados, têm maior predisposição a doenças entéricas.
Particularmente animais gnotobióticos têm epitélios intestinais hipoplásicos e peristaltismo diminuído, além da função imunológica diminuída e redução da massa de tecido linfoide. Já foi demonstrado que a reintrodução da microbiota nesses animais restaurou a função intestinal, a proliferação da mucosa, o desenvolvimento imunológico e o crescimento dos animais.
A ativação de linfócitos T e B depende, principalmente, da apresentação de antígenos pelas células imunes inatas adaptativas, que incluem células dendríticas, macrófagos e neutrófilos, sendo que esses antígenos vêm da microbiota, nutrientes, metabólitos e patógenos nocivos.
Além disso, bactérias comensais são fundamentais para a saúde do hospedeiro:
1) Desempenhando um papel de barreira física, bloqueando o acesso de possíveis patógenos à camada epitelial;
2) Competindo por nutrientes, ou gerando produtos de metabolismo que inibem o crescimento e a sobrevivência dos patógenos entéricos.
A colonização bacteriana pode influenciar a morfologia e a função intestinal. Alguns estudos demonstram que há:
- alterações nos parâmetros histomorfológicos do intestino delgado,
- proliferação de células epiteliais e apoptose,
- atividade de enzimas de borda em escova,
- bem como amplos efeitos nos perfis transcriptômicos epiteliais e proteômicos entre animais gnotobióticos e animais inoculados com bactérias.
As bactérias intestinais afetam o ciclo dos enterócitos, aumentando a apoptose e a proliferação celular, por indução de uma resposta inflamatória e aumento da expressão de sinalizadores de apoptose.
A manipulação da microbiota pode melhorar a eficiência do crescimento, melhorando a função digestiva e reduzindo o custo metabólico de substituir o epitélio intestinal.
A ativação exacerbada desses fatores de apoptose faz com que a energia de mantença aumente, uma vez que aumenta o ciclo celular. Por sua vez, a ativação adequada do epitélio intestinal é importante na formação de tight junctions e na manutenção da renovação celular.
A principal fonte de energia que a microbiota intestinal utiliza são os carboidratos fermentáveis, como oligossacarídeos não digeríveis, polissacáridos não amiláceos e diferentes tipos de amido resistente. Essas fontes energéticas são aproveitadas por meio de fermentação, que é muito importante para os suínos, uma vez que influencia a motilidade intestinal, melhora a eficiência alimentar e contribui para produção de vitaminas.
A energia gerada pela fermentação microbiana pode suprir até 30% das necessidades energéticas para mantença em um suíno em crescimento.
O principal produto da fermentação são os ácidos graxos de cadeia curta, incluindo butirato, acetato e propionato, sendo o butirato uma das principais fontes de energia para os enterócitos, especialmente os que compõe o intestino grosso.
A fermentação de proteínas, por sua vez, gera metabólitos que são prejudiciais como aminas, fenóis e amônia, que podem otimizar o crescimento de microrganismos potencialmente patogênicos, como algumas espécies de Clostridium e Bacteroides.
Sabe-se que uma microbiota mais estável é benéfica para o hospedeiro, participando de processos metabólicos e protegendo contra potenciais patógenos.
Um dos momentos em que ocorre a perda deste equilíbrio é o período pós desmame, quando os animais passam de uma dieta essencialmente líquida, com fontes proteicas e energéticas de origem animal, para uma dieta sólida, com nutrientes basicamente oriundos de fontes vegetais.
Para evitar perdas maiores no pós-desmame, uma das estratégias é a modulação da microbiota residente. Para a modulação da microbiota, a forma mais comum e efetiva é a utilização de antimicrobianos em doses abaixo da dose terapêutica, sendo considerados como promotores de desempenho.
No entanto, apesar da capacidade inequívoca de melhorar o crescimento e o desempenho, há evidências da seleção de cepas bacterianas resistentes. Com isso, em diversos países já existe proibição do uso desses produtos como promotores na nutrição animal.
Atualmente, a legislação brasileira proíbe o uso de:
• avoparcina (Of. Circ. DFPA nº 047/1998),
• olaquindox (IN nº 11, 24/11/2004),
• carbadox (IN nº 35, 14/11/2005),
• anfenicois, tetraciclinas, B-Lactâmicos (penicilinas e cefalosporinas), quinolonas e sulfonamidas sistêmicas (IN nº 26, 9/07/2009 e Portaria nº 193/1998),
• eritromicina e espiramicina (IN nº 14, 17/05/2012) e
• colistina (IN nº 45, 22/11/2016).
Além dessas, recentemente, em 2018, tilosina, lincomicina e tiamulina também passaram a ser proibidas como promotores de desempenho (Portaria nº 171/2018).
Alternativas ao uso de antimicrobianos melhoradores de desempenho
Dentre várias alternativas ao uso de antimicrobianos, estão os ácidos orgânicos, probióticos, prebioticos e extratos vegetais. Apesar de resultados controversos, o uso destes produtos se mostra com potencial para a abolição dos antimicrobianos como promotores de desempenho.
Sabe- se que leitões recém-desmamados têm o pH estomacal elevado durante essa fase. Manter o pH gástrico baixo é importante para otimizar a digestão de nutrientes e prevenir o crescimento de patógenos. A adição de ácidos orgânicos às dietas para leitões recém-desmamados, tais como fumárico, cítrico, lático, fórmico e benzoico, promove uma melhora na performance e na saúde desses animais.
O uso de probióticos na fase de desmame tem boa resposta, uma vez que esses produtos competem com bactérias patogênicas e, com isso, promovem um equilíbrio microbiano no intestino. Isso se dá através de:
• competição física por sítio de ligações no epitélio intestinal,
• competição por nutrientes,
• produção de metabólitos antibacterianos,
• produção de nutrientes importantes para o hospedeiro e
• estimulação da imunidade intestinal.
Além disso, a combinação com o uso de prebióticos pode aumentar a atividade de bactérias benéficas ao hospedeiro.
Existe também a possibilidade de se utilizar os metabólitos produzidos pelas bactérias, a exemplo de enzimas, peptídeos, ácidos graxos de cadeia curta e polissacarídeos, entre outras. Essas possuem atividades anti-inflamatórias, imunomoduladoras, antiproliferativas e antioxidantes.
Essas substâncias que podem ser benéficas para o hospedeiro de maneira direta, ou indireta, são chamadas de pós-bióticos e têm um futuro promissor na utilização para a alimentação animal por apresentarem superioridade em termos de segurança comparados às células vivas dos probióticos.
Extratos naturais de ervas são ainda compostos com potencial para ser uma alternativa viável aos antimicrobianos tradicionais. Entre os produtos já testados estão:
• carvacrol,
• cinamaldeído,
• timol,
• oleorresina de capsicum,
• extrato hidroalcóolico de aroeira.
Esses estudos demonstraram a capacidade dos extratos vegetais em promover o crescimento dos animais por meio da modulação da microbiota. Além disso, esses compostos estão relacionados ao aumento da digestibilidade, absorção de nutrientes e efeitos imunomoduladores.
Conclusão
Fica claro que a utilização de antimicrobianos como promotores de desempenho traz benefícios para a manutenção da saúde intestinal dos suínos. Contudo, a microbiota pode sofrer alterações significativas com o uso de antimicrobianos, gerando um desequilíbrio ruim para os animais.
Além disso, a utilização de antimicrobianos como promotores de desempenho está cada vez mais restrita ante recentes legislações. Com isso, alternativas devem ser estudadas e aplicadas o quanto antes.