Leite e Integração: reprodução e nutrição e lactação

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    reprodução do rebanho

    Reprodução do rebanho: Série especial reúne grandes especialistas do setor para responder perguntas cruciais à produção de leite no Brasil

     

    A eficiência produtiva e, consequentemente, o sucesso econômico de fazendas leiteiras depende de vários fatores, como: boa alimentação, conforto, sanidade e também do desempenho reprodutivo do rebanho. A interação entre nutrição e reprodução do rebanho exerce grande impacto sobre o sucesso na atividade leiteira e os investimentos realizados nesses quesitos são altos, por isso, é preciso ficar atento.

    Para falar sobre reprodução do rebanho, a Agroceres Multimix convidou um de seus parceiros, o professor José Luiz Moraes Vasconcelos (Zequinha), para iniciar a pauta dos principais assuntos pertinentes à produção de leite, que integra: reprodução, nutrição e lactação.

    Nós perguntamos e o professor Zequinha respondeu:


    Na sua experiência, conhecendo dados de muitos rebanhos, qual é a situação atual do status reprodutivo dos rebanhos brasileiros?

    Na verdade, a eficiência reprodutiva é um parâmetro que, cada vez mais, técnicos e produtores estão interessados, estão vendo a importância dela e se preocupando com fatores que interferem com os resultados reprodutivos do rebanho. Existem fazendas no Brasil, que possuem dados similares a de fazendas americanas, mostrando que aqui também é possível ter boa eficiência reprodutiva.


    Nós sabemos que as vacas de hoje são mais produtivas do que as de 20 anos atrás. O que pode ter mudado ou que fatores, além da produção, podem ter sido responsáveis pela queda ou aumento da fertilidade?

    A produção de leite, na verdade, vem aumentando devido à aquisição de novas tecnologias. Como a reprodução é uma característica de herdabilidade baixa, altamente influenciável pelo meio externo, vacas que produzem mais são mais exigentes e terão mais problemas se o meio em que se encontram não estiver adequado, afetando negativamente a reprodução. Às vezes elas produzem bem, mas não reproduzem bem porque a reprodução é mais sensível aos efeitos negativos do meio. É comum ver fazendas com boa produção de leite e inadequada eficiência reprodutiva.


    As vacas em alta produção têm depuração hormonal mais acentuada, ou seja, hormônios como estradiol e progesterona permanecem menos tempo circulantes devido ao alto fluxo sanguíneo. Quais parâmetros reprodutivos sofrem influência desse fator fisiológico e como isso afeta a reprodução do rebanho?

    Vacas de leite de alta produção têm alta ingestão de alimento e maior clearance hormonal e, consequentemente, menos progesterona e estradiol na circulação, que são hormônios importantes para a fertilidade. Isso é importante porque entramos no conceito de inseminação artificial em tempo fixo (IATF), que é uma ferramenta que permite inseminar as vacas sem a necessidade de ver o cio da vaca. Mais importante que isso, viabiliza a reposição hormonal, ou seja, colocar mais progesterona e mais estradiol na vaca. Através do protocolo, mesmo produzindo muito, ela terá concentração desses hormônios na circulação mais compatível com melhor fertilidade. É por isso que, muitas vezes, a fertilidade de uma vaca no protocolo é melhor do que da vaca inseminada pós-cio natural.


    Qual o impacto dos protocolos de IATF na melhoria desses parâmetros?

    O protocolo aumenta a taxa de serviço e permite aumentar a taxa de concepção. Os dois mecanismos aumentam a prenhez. Uma vaca de menor produção de leite vai aumentar a taxa de serviço, mas não vai aumentar a concepção, já uma vaca de alta produção, aumenta o serviço e aumenta a concepção. É mais vantajoso em vacas de alta produção de leite, desde que seja um bom protocolo e que faça efetivamente a reposição hormonal em termos de progesterona e estradiol.


    Qual protocolo está sendo recomendado atualmente?

    Quando estiver utilizando um protocolo é necessário olhar a habilidade dele em aumentar esses hormônios na vaca. Os últimos protocolos estudados, e que são indicados, utilizam dois dispositivos de progesterona ou adição de GnRH, associado a benzoato no início do protocolo, simplesmente para se ter mais progesterona durante o desenvolvimento do folículo. Importante também antecipar a prostaglandina durante o protocolo para que o folículo cresça mais, produza mais estradiol e, consequentemente, dê mais cio, que é importante para a fertilidade.


    Existem diferentes protocolos para diferentes categorias de animais?

    Sim, quanto maior a produção de leite da vaca, maior a necessidade de um “bom protocolo”. Com novilhas, por exemplo, que estão ciclando, podemos utilizar protocolos mais simples e conseguimos boa fertilidade. Vacas com maior produção requerem protocolos mais adequados as suas exigências.


    Como, na sua opinião, está o crescimento de IATF? Vem crescendo significativamente ao longo dos anos?

    Sim, vem crescendo bastante, principalmente depois que os produtores adotam e veem os resultados. São vários produtores aumentando a utilização do protocolo, mostrando os resultados, inclusive, na melhora da fertilidade com o protocolo em relação ao cio natural, quando a vaca é inseminada entre 50 e 100 dias, por exemplo.


    Quais índices reprodutivos devemos olhar para avaliar o status reprodutivo de uma fazenda?

    Precisamos olhar os índices reprodutivos que diminuirão os dias em lactação (DEL) médio do rebanho e um índice reprodutivo que emprenhe mais vacas. Na realidade, o primeiro passo, em qualquer fazenda, é saber qual o DEL médio do rebanho. Precisamos de um parâmetro para saber como está a reprodução do rebanho, por exemplo: qual a proporção de vacas gestantes aos 100/150 dias. A taxa de prenhez é uma ferramenta para termos uma noção de como vai ser a proporção de vacas gestantes e como vai ser o DEL. É o parâmetro que as pessoas, tecnicamente, sugerem como um bom parâmetro reprodutivo. Muitas fazendas não conseguem ter esse parâmetro, precisam de um programa para analisar. Então, para fazenda com um bom programa, taxa de prenhez é um bom parâmetro, ou seja, proporção de vacas prenhas no intervalo de um ciclo, 21/22 dias. Tudo depende de cada fazenda e cada cenário. Basicamente, os índices que eu quero são: liberar minha vaca o quanto antes, inseminar o quanto antes e emprenhar o quanto antes.


    Na sua opinião, entre muitos parâmetros nutricionais, quais seriam os mais impactantes nos índices de reprodução do rebanho?

    Como você disse, são muitos parâmetros. O que eu, que trabalho com reprodução do rebanho, quero do nutricionista na minha fazenda é ter uma vaca saudável, que não está em balanço energético negativo (BEN) ou apresenta um BEN pouco intenso. Isso significa que a vaca começa a ciclar mais rapidamente. Então, o nutricionista, junto com o responsável pela reprodução do rebanho na fazenda, deve saber a proporção de vaca ciclando com a presença de corpo lúteo entre 35 e 45 dias. Se a nutrição e o manejo estão bons, na realidade teremos alta proporção de vacas ciclando. Se tiver proporção baixa de vaca ciclando, algo está errado. O nutricionista tem que entregar uma maior proporção de vaca ciclando no início do protocolo de IATF (40 a 45 dias), porque vacas ciclando sinaliza que ela comeu bem e que ela está bem de saúde e tem progesterona circulante, que ajuda a ter melhor eficiência reprodutiva quando for ser inseminada.


    Qual a relação e qual o impacto do nível de amido da dieta em uma vaca pós-parto?

    Se nós queremos uma vaca que esteja ciclando, essa vaca tem que ter ovulado, e para ovular o folículo tem que crescer adequadamente e para crescer precisa de glicose e insulina adequados. Para isso, ela precisa ter propionato sendo produzido, que é oriundo do alto amido na dieta (alto não é passando do ponto, alto é balanceado adequadamente). Então, na verdade, amido é o precursor de propionato que, consequentemente, é precursor de glicose e IGF1 que estão relacionados ao bom desenvolvimento do folículo e maior números de vacas ciclando “em torno de 45 dias”, sem passar do ponto e nem causar acidose.

    O próximo passo é emprenhar a vaca o mais rápido possível, porque dietas com alto amido que são importantes para estimular a ciclicidade podem ter efeito negativo na fertilidade (dados de literatura sugerem que as vacas se tornam resistentes a insulina que pode impactar negativamente na fertilidade). Essas vacas com alto amido podem ter diminuição na fertilidade (hipótese), com o amido alto após 100 dias, passando a ter efeito negativo. Então, de forma simplista: menos de 100 dias, eu puxo o amido, depois de 100 dias eu não posso puxar muito o amido, porque eu posso comprometer a fertilidade. É um balanço da obra. Por isto devemos emprenhar a vaca o quanto antes.


    E se aos 100 dias uma vaca não emprenhou e o amido estiver muito alto? Alguma coisa estaria errada?

    É, não sei se diria que está errado ou se cochilou. Na verdade, as fazendas não fazem o protocolo, dão tempo para a vaca e, consequentemente, faz com que ela receba a segunda inseminação com mais de 100 dias, e sabe que a concepção na primeira e na segunda inseminação é maior, portanto temos que fazer isso o quanto antes. Podemos fazer a primeira com 60 e a segunda com 120. A primeira com 60 e a segunda com 100; ou a primeira com 60 e a segunda com 80, tendo a chance de fazer a terceira com 100/110. Então, enquanto alguns fazem duas tentativas, outros fazem três. Deve-se aproveitar positivamente a melhor janela de fertilidade da vaca que vai de 60 a 120 dias. Então, tem gente que aproveita uma vez, gente que aproveita duas vezes e gente que aproveita três, isso se chama manejo reprodutivo.


    Na mesma linha de impacto da nutrição, nós utilizamos o nitrogênio ureico no leite (NUL) como parâmetro importante na avaliação nutricional do rebanho. Com relação aos parâmetros reprodutivos, existe interferência do NUL na melhora ou piora da reprodução do rebanho?

    NUL é um parâmetro muito interessante para os nutricionistas entenderem o que vem acontecendo no rúmen, agora, em termos de reprodução do rebanho, os dados que têm são dados com níveis experimentais, normalmente não observados nas fazendas. Apenas níveis muito elevados mostram alguma associação com diminuição da fertilidade. No dia a dia da fazenda, a chance do NUL afetar negativamente a fertilidade é baixa, pois tem que estar muito errado para que esse efeito ocorra. Temos que desmistificar um pouco este conceito.


    Sabemos que a suplementação mineral vitamínica afeta a saúde, longevidade e produção do rebanho. Segundo sua experiência, quais os principais minerais/vitaminas que exercem impacto direto na reprodução do rebanho?

    Temos o NRC como nosso guia. Se chegarmos numa fazenda com o estresse alto, devemos aumentar os elementos “antiestresse”. Temos que ter o bom senso de manejar isso adequadamente. Outro ponto é a dieta aniônica, a qual temos que nos preocupar no pré-parto. Qual a incidência de hipocalcemia subclínica no rebanho? Uma vaca que tem hipocalcemia come menos. Devemos aumentar elementos antiestresse como Cu, Zn, Mn e vitamina E. Vai ficar caro? Sim, mas essa é uma forma de minimizar os efeitos negativos do estresse.


    O que é indispensável para os animais que chegam no pré-parto?

    O “ponto zero” do pré-parto é a vaca estar na condição corporal adequada. Vaca gorda vai comer menos, e comendo menos ela vai estar estressada naturalmente, simplesmente porque comeu menos. Se ela está gorda é porque ela comeu muito ou porque ela atrasou para emprenhar. Vemos novilhas parindo muito gordas, mostrando que houve atraso no manejo reprodutivo delas. Elas ficaram mais velhas e mais gordas e terão mais problemas na vida subsequente. Outro fator é a hipocalcemia subclinica, que tem preocupado os técnicos de campo. Constatamos em algumas fazendas que usam manejo “razoável” no pré-parto incidência de 60 a 70% de animais considerados com hipocalcemia subclínica, mostrando que existe o problema e muitas vezes não está sendo levado em consideração. Precisamos avaliar mais este parâmetro.


    Para finalizar, quais os benefícios de um pré-parto com a dieta balanceada, em que as vacas estão confortáveis, para os animais que chegarão no pós-parto e na sua futura lactação?

    Uma vaca feliz é mais produtiva. Alta produção de leite com boa eficiência reprodutiva é sinônimo de alta produção de leite por dia de intervalo entre partos e maior produtividade. Nosso recado final: quem trabalha com nutrição precisa se preocupar com a eficiência de reprodução do rebanho, pois aumenta leite e diminui custo por litro de leite produzido.

    Nutrição Animal – Agroceres Multimix

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