As vitaminas em geral participam de diversas funções fisiológicas essenciais para o metabolismo. A colina (figura 1), por sua vez, é encontrada em praticamente todas as matérias-primas utilizadas nas rações, no entanto, em concentrações insuficientes para a maximização de produção, havendo assim a necessidade de suplementação através de outras fontes.
A colina foi classificada como vitamina B4, mas atualmente pode ser classificada como uma vitamina hidrossolúvel e pode ser sintetizada pelos animais a partir da serina e na presença de ácido fólico e vitamina B6 no fígado (Berterchini, 2006).
Dentre suas funções:
- Participa da manutenção e construção celular na forma de fosfolípideo;
- Atua no metabolismo lipídico, prevenindo o acúmulo de gordura no fígado através do transporte de lipídeos ou aumento do catabolismo de ácidos graxos (Lesson e Summers, 2001);
- Participa da síntese de acetilcolina que é um neurotransmissor;
- Atua no metabolismo proteico e energético, sintetizando compostos como metionina, carnitina, fosfatidilcolina (lectina) e creatinina;
Colina: exigência e suplementação para aves
Apesar da colina estar presente em praticamente todos os ingredientes de formulação de rações, as fontes proteicas são as mais ricas e sua biodisponibilidade varia de acordo com o ingrediente.
O milho, farelo de soja e farinha de carne e ossos apresentam cerca de 1.000, 2.700 e 1950 mg/kg de colina, respectivamente, sendo que suas biodisponibilidades são próximas a 60, 75 e acima de 90%, respectivamente (Berterchini, 2006).
Na tabela a seguir, é demonstrado variação de concentração de colina de diversas matérias-primas.
Tabela 1. Concentração de colina de alguns ingredientes utilizados na alimentação de aves
Ingrediente | Concentração de colina (mg/kg) |
Milho | 210 a 1100 |
Arroz branco | 58 a 1076 |
Trigo | 320 a 1076 |
Cevada | 937 a 1053 |
Farelo de soja | 1160 a 2916 |
Glúten de milho (60%) | 330 a 2200 |
Farinha de carne e ossos (50%) | 1950 a 2000 |
Farinha de vísceras de frango | 5952 |
Fonte: adaptado de Rohr (2018)
A exigência de colina varia conforme a idade das aves e, aparentemente, a taxa de síntese da colina aumenta conforme o envelhecimento, uma vez que é difícil de observar deficiência de colina em frangos de corte acima de 8 semanas.
Segundo as Tabelas Brasileiras de Nutrição de Aves e Suínos (Rostagno et al., 2017), a suplementação de colina para frangos de corte deve ser de 550, 496, 392, 320 e 287 mg/kg nas cinco primeiras semanas de vida, respectivamente.
De modo similar, os níveis de suplementação de colina recomendados para frangas e poedeiras leves nas fases inicial, cria e postura são 496, 392 e 270 mg/kg, respectivamente.
O NRC (1994) e Dänicke et al. (2006) determinaram uma exigência de colina de 1.050 e 1.500 mg/kg, respectivamente, para a maximização da produção de ovos.
Importante destacar que a colina é fonte de grupos metil prontamente ativa. Deste modo, compostos como a metionina, betaína, vitamina B6 e ácido fólico podem influenciar nos níveis de suplementação de colina, principalmente para aves jovens. O nível de lipídeos também pode ser levado em consideração.
Na literatura, há variação dos níveis de exigência de colina (Dias, 2021), provavelmente devido a essa interação com outros nutrientes.
A deficiência de colina pode favorecer:
- a esteatose hepática,
- perose e
- afetar negativamente o crescimento e o empenamento das aves.
Por outro lado, o excesso da vitamina, apesar de aparente baixa toxicidade nas aves, pode resultar na redução do aproveitamento da vitamina B6 (Combs Jr., 2008; Rutz et al., 2014; Dias, 2021).
Fontes de suplementação
Atualmente, a suplementação de colina mais utilizada é sua forma sintética, o cloreto de colina, um composto altamente higroscópico. Sua forma de apresentação em pó é a mais usual nas rações de monogástricos, uma vez que sua forma líquida é corrosiva e exige equipamentos e manejos adequados para seu manuseio (McDowell, 2000; Lesson e Summers, 2001; Combs Jr., 2008).
Uma alternativa ao cloreto de colina utilizada na nutrição animal é a colina herbal, sendo um extrato natural de baixa higroscopicidade e fonte de fosfatidilcolina (De Bona, 2020). Dentre as vantagens dessa substituição, a propriedade de baixa higroscopicidade é positiva quando comparado a forma sintética, pois:
- Ocorre menor perda de vitaminas hidrossolúveis quando adicionado ao premix;
- Menor potencial reativo, uma vez que há uma menor umidade na mistura;
- Evita problemas operacionais para a fabricação de ração.
Segundo um estudo realizado por Brijpal et al. (2010), a estabilidade de diversas vitaminas é menos impactada com o contato da fosfatidilcolina do que com sua forma sintética. Neste estudo foi considerado um período de três meses e os ingredientes foram mantidos em temperatura ambiente (Figura 2).
Sobre a biodisponibilidade de fosfatidilcolina em relação ao cloreto de colina, Farina et al. (2017) realizou um estudo com frangos de corte no período de 14 a 28 dias de idade.
Seus resultados indicaram que cada unidade de fosfatidilcolina é equivalente a 2,52 unidade de cloreto de colina, tomando-se como base os dados de conversão alimentar. É importante destacar que a biodisponibilidade da fosfatidilcolina em relação ao cloreto de colina varia de acordo com o produto comercial e que há diferentes produtos à base de colina herbal no mercado.
Uma diferença entre ambas as fontes de colina:
- o cloreto de colina está sujeito a degradação pela flora intestinal, podendo ser transformada em trimetilamina (principalmente em níveis elevados);
- a fosfatidilcolina sofre pouca degradação (Mulji, Florêncio e Alves, 2014).
Estima-se que cerca de um terço do cloreto de colina seja absorvido e o restante, transformado em trimetilamina. Essa diferença metabólica corrobora com a maior biodisponibilidade da forma natural em relação a sintética.
Diversos estudos (Chatterjee e Misra, 2004; Yu, 2009; Rohr, 2018; De Bona, 2020; Dias, 2021) têm demonstrado, cada vez mais, que a fonte vegetal de colina apresenta potencial de substituição ao cloreto de colina, uma vez que são capazes de manter ou até melhorar o desempenho de frangos de corte e galinhas de postura. No entanto, faz-se necessário avaliar o cenário econômico vigente.
Referências