Na pecuária a pasto, para que os animais apresentem bom desempenho zootécnico, de forma rentável e sustentável, é necessário que eles tenham acesso a pastagens com volume e valor nutritivo adequados. Para alcançar os resultados desejados é imprescindível o uso eficiente das forrageiras possibilitado pelo manejo das pastagens.
O manejo das pastagens, quando realizado corretamente, apresenta benefício duplo, produzindo forrageiras com qualidade e abundância, influenciando na produção animal, e auxiliando na manutenção e perenidade das plantas, levando à longevidade das forrageiras e proteção do solo.
O sucesso do manejo da pastagem está relacionado com a interação entre o animal, a forragem e o solo.
O manejo rotacionado, também conhecido como rodízio de pasto, é uma das maneiras de se manejar o pasto nas propriedades. Ele consiste em subdividir a área de pastejo em piquetes, e rotacionar os animais entre os piquetes. Assim, alternam-se curtos períodos de ocupação em cada área, com longos períodos de descanso da forrageira.
O sistema de rodízio de pasto é baseado na fisiologia das plantas forrageiras, que necessitam de um período de descanso para se recuperarem do corte ou pastejo.
O sucesso desse manejo está em controlar a entrada e saída dos animais, “colhendo a forragem” no momento ideal e permitindo um rebrote livre da ação do animal. Como a eficiência de pastejo é maior, temos maior colheita de forragem por área e consequentemente aumento da lotação animal.
Esse manejo, desde que respeitada a altura de resíduo (saída dos animais da área, normalmente 40 a 50% da altura ideal de entrada), também contribui para o aumento do sistema radicular e da taxa de fotossíntese, levando ao aumento da produção de forragem.
Vantagens do sistema de rodízio de pasto ou pastejo rotacionado:
- maior controle sobre a quantidade de pasto disponível para os animais;
- redução nas perdas de forragem, que ocorrem pelo pisoteio excessivo pelos animais;
- maior oportunidade para recuperação da planta e a rebrota antes do próximo ciclo de pastejo, já que, após o descanso, a forrageira possui maior vigor e resistência;
- pastejo mais uniforme, reduzindo as perdas de forragem;
- melhor distribuição dos dejetos dos animais, melhorando as condições físicas e biológicas do solo;
- redução da infestação por plantas invasoras (desde que respeitado a altura de saída);
- manutenção de forragem de melhor qualidade e boa relação folha:caule disponível para os animais.
Apesar dos benefícios, o sistema de rotação de pastagens tem maior custo de implantação, principalmente pela construção de cercas, bebedouros e cochos para atender aos animais em cada piquete. Além de demandar mais mão de obra, lembrando que nesses sistemas recomenda-se ter um responsável na fazenda para definir o momento de entrada e saída dos animais na área, o manejador de pasto.
O número, a forma, e o tamanho dos piquetes a serem utilizados no rodízio de pasto devem ser avaliados em função de alguns fatores, como a topografia e configuração geométrica do terreno, o número de aguadas existentes e/ou viabilidade de construção, a intensidade de pastejo e o número de animais que irão ocupar a área, a forragem a ser utilizada e sua taxa de crescimento, além do período de descanso.
Para realizar o rodízio de pasto de forma satisfatória, dois períodos devem ser conhecidos e bem manejados: o período de ocupação e o período de descanso.
Período de ocupação
O período de ocupação corresponde ao período de permanência dos animais em determinado piquete.
No primeiro dia de ocupação o comportamento dos animais é de seletividade, quando eles consomem primeiro as folhas com alta concentração de nutrientes e boa relação folha:caule. À medida que o período de ocupação aumenta, há uma redução na quantidade e qualidade da forragem consumida, pois vai reduzindo a relação folha:caule.
O período de ocupação deve ser suficiente para que os animais consumam a forragem disponível e não ocorra o subpastejo. Porém, o período de ocupação também deve evitar a ocorrência do superpastejo, respeitando a altura de resíduo, garantindo que as forragens possam se recuperar à saída dos animais.
Período de descanso
Corresponde ao período em que o piquete permanece livre de animais. O objetivo é permitir a recuperação da pastagem.
O período de descanso varia em função da velocidade de crescimento da forrageira, época do ano, longevidade das folhas, qualidade da forragem, densidade e altura da pastagem e interação dos fatores climáticos (luminosidade, temperatura, umidade e fertilidade do solo).
O período de descanso aliado ao manejo de colheita, contribui para o aumento do sistema radicular e da taxa de fotossíntese, levando ao aumento de produção de forragem.
Manejo do rodízio de pasto
Para cada espécie, ou cultivar, deve-se trabalhar com altura de entrada e saída, respeitando o acúmulo de forragem, estrutura do pasto e rebrote. Os períodos de descanso e ocupação variam ao longo do ano, pois a curva de crescimento das forrageiras também é influenciada por fatores climáticos.
O momento certo para rotacionar os animais entre os piquetes é crucial para o sucesso do rodízio de pasto. O manejo por altura é a maneira mais prática de definir tanto o momento de entrada, quanto o momento de saída dos animais dos piquetes.
Manejo por altura
O manejo por altura no rodízio de pasto leva em consideração os aspectos morfológicos e ecofisiológicos das plantas forrageiras.
O crescimento das plantas forrageiras tropicais ocorre em três fases distintas, que podem ser entendidas como crescimento lento inicial, seguido de crescimento acelerado e por último, declínio da produção. Desse modo, é possível entender o melhor momento para interromper a rebrotação e, no caso do manejo rotacionado, liberar a entrada dos animais em determinado piquete.
O gráfico abaixo mostra a curva de crescimento das pastagens ao longo das três fases de crescimento. Com o entendimento desse gráfico é possível compreender, de forma geral, o princípio para identificar o momento certo para fazer o rodízio do pasto com a entrada dos animais na pastagem.
Além de entender também o momento para saída dos animais, em que o resíduo pós-pastejo deve ser suficiente para permitir a recuperação da pastagem durante o período de descanso e início de um novo ciclo.
A avaliação do momento de entrada dos animais na pastagem poderia ser realizada a partir da interceptação luminosa da planta, ou seja, quando a interceptação luminosa atingisse 95% seria o momento de entrada no piquete. Após esse estágio, as plantas iniciam o alongamento exacerbado de colmo e aumentam a senescência, em detrimento de folhas de maior qualidade.
Como essa avaliação exige um equipamento específico, sua adoção a campo fica comprometida. A vantagem é que a interceptação de luz pela planta correlaciona-se fortemente com a altura da planta, permitindo assim o uso desta variável como parâmetro de manejo do pasto.
É importante destacar que cada planta forrageira tem sua altura ideal para entrada e saída, pois cada uma tem sua velocidade e curva de crescimento próprias. Na tabela abaixo, pode-se observar as alturas de entrada e saída de algumas forrageiras utilizadas nas pastagens brasileiras.
Tabela 1. Recomendação de alturas para entrada e saída dos animais em pastejo rotacionado
Gramínea | Altura do pasto (cm) | |
Pré-pastejo | Pós-pastejo | |
Capim-mombaça | 90 | 30 a 50 |
Capim-tanzânia | 70 | 30 a 50 |
Capim-aruana | 30 | 15 |
Capim-marandu | 25 | 10 a 15 |
Capim-xaraés | 30 | 15 a 20 |
Capim-cameroon | 100 | 40 a 50 |
Capim-andropogon | 50 | 27 a 34 |
Capim-humidícula | 30 | 16 |
Capim-braquiarinha | 20 | 10 |
Capim-mulato | 30 | 15 a 20 |
Capim-quênia | 60 | 30 |
Adaptado de LAZZARINI, Sylvio. Manejo de pastagens na pecuária de corte. Editora Aprenda fácil, 3ª ed., 2021.
Um dos instrumentos mais utilizados para verificar se a forrageira está na altura correta para rotação da pastagem é a régua de manejo de pastagem. A régua é um instrumento simples, que consiste em um bastão graduado, em centímetros, com as marcações da orientação de manejo.
Com a régua é possível saber se a altura da forragem no pasto corresponde ao estágio que propiciará o melhor desempenho animal e a manutenção da produtividade da pastagem. Portanto, é o momento para a entrada dos animais no piquete, assim como também é indicado o momento de saída dos animais da área e a troca de piquetes.
Essa marcação corresponde à altura da forragem em que o resíduo do pastejo ainda seja fotossinteticamente ativo para sobrevivência da planta e rápida rebrota. Deve ser observado que cada forrageira terá uma altura adequada de entrada e saída dos piquetes, como indicado na Tabela 1.
Além da régua, outros instrumentos também podem ser utilizados no rodízio de pasto, como o disco medidor.
O método baseia-se no princípio de que a produção de forragem está intimamente relacionada com a densidade e a altura de seus componentes. Os dois fatores, em conjunto, são fortemente associados com massa de forragem.
O disco medidor não é recomendado para uso em capins que possuem muitos colmos ou encontram-se acamados. Além disso, para melhores resultados, é recomendado usar o disco medidor em pastagem composta por uma única forrageira e não em pastagens consorciadas.
Atualmente, a zootecnia de precisão tem auxiliado o produtor no rodízio de pasto, na determinação do ponto de entrada e saída dos animais dos piquetes. Um método promissor e que pode ser realizado remotamente, sem a presença de um técnico na pastagem, é o sensoriamento remoto aplicado ao manejo de pastagens.
O método utiliza imagens de satélites e/ou drones que são analisadas por algoritmos e estimam a massa de forragem disponível na área. Com essa informação, é possível tomar a decisão sobre a entrada e saída dos animais no rodízio de pasto.
Vale destacar que, além dos métodos de rodizio de pastagens mais conhecidos como o rotativo, um novo conceito vem sendo difundido, o manejo rotatínuo. O novo conceito considera o comportamento ingestivo dos ruminantes para realizar a rotação entre os pastos, além de preconizar alturas ideais de pastejo para maximizar a taxa de ingestão.
Conclusão
Como pode ser observado, o rodízio de pastagem é uma das formas de se manejar as pastagens e proporciona muitas vantagens. Ele prioriza a eficiência na colheita de forragem, melhorando a eficiência de pastejo, aumento de lotação animal e a produção por área.
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