SPIDES (Short Periods of Incubation During Egg Storage)
A incubação de ovos férteis alicerça a cadeia produtiva de aves, pois gera o produto a ser explorado a campo e seus resultados podem comprometer toda a rentabilidade do segmento. Durante o processo de incubação, o ovo fornece todos os nutrientes necessários para o desenvolvimento adequado do embrião. Entretanto, alguns fatores são essenciais para o embrião, como: temperatura, umidade relativa do ar, ventilação, viragem e posição dos ovos, além de algumas práticas de manejo realizadas no período anterior à incubação, como: a estocagem dos ovos férteis, assim como fatores relacionados às matrizes, como: a idade e a qualidade da dieta. (SANTANA e et al. 2014).
A estocagem dos ovos férteis é uma prática comum e – muitas vezes – necessária na incubação comercial. Na maioria das vezes, o objetivo é evitar a mistura de ovos de diferentes lotes e idades, ou de lotes com status sanitário duvidoso e a incubação de um maior volume de ovos para atender uma demanda programada. O manejo de estocagem depende de vários fatores, entre eles: as condições ambientais, linhagem, idade do lote, características físicas e químicas do ovo, estágio do desenvolvimento embrionário e tempo de estocagem, fatores esses que afetam a eclodibilidade e qualidade do pinto ao nascer. (SCHMIDT et al., 2002).
Sabe-se que o estoque prolongado dos ovos é acompanhado de queda de eclosão e qualidade dos pintos em uma relação direta e até exponencial, conforme a idade do ovo avança. (BOLELI, 2003). Além desse fator, sabe-se que o período ideal de estoque pode variar entre os diferentes segmentos da genética avícola (pesada x leve), entre linhagens, e até mesmo entre diferentes empresas e regiões, sendo muito difícil estimar o estoque ideal. (CALIL, 2013).
Tem sido sugerido que armazenamento prolongado de ovos pode induzir o estresse embrionário, manifestando em aumento de morte celular apoptótica, depressão no metabolismo embrionário e atrasos no desenvolvimento; Como resultado, pode ocorrer dano irreparável ao embrião, resultando em aumento da mortalidade embrionária e diminuição do desempenho do pinto no campo. (FASENKO, 2007).
Quando o ovo é posto, o embrião conterá mais de 30.000 células. Uma vez que os ovos são armazenados, o desenvolvimento embrionário irá parar normalmente, desde que os ovos sejam armazenados abaixo de 24 °C (NICHOLSON et al., 2013). Se os ovos são armazenados por mais de alguns dias, então as células embrionárias começam a morrer. Após 10-12 dias de armazenamento, mais de metade das células presentes na oviposição terão morrido (BAKST et al. 2012).
Percebendo-se as perdas pela estocagem prolongada de ovos férteis, surgiu então o questionamento: como melhorar a eclodibilidade dos ovos armazenados? Foi então observando o processo natural de oviposição das galinhas, que encontraram uma resposta.
Uma galinha criada de maneira natural irá por um ovo por dia em seu ninho, até que a postura esteja completa. Todas as vezes que ela volta ao ninho para a postura de um ovo, os ovos mais velhos que já estão no ninho serão aquecidos, proporcionando na verdade um curto período de incubação e resgatando as células embrionárias que morreriam durante a armazenagem dos ovos, além de adiantar o desenvolvimento embrionário até um estágio mais resistente à armazenagem. Essa é a filosofia dos SPIDES (Short Periods of Incubation During Egg Storage), períodos curtos de incubação durante o período de estocagem. Como simula um processo natural, o SPIDES mostrou que é robusto e tem uma flexibilidade considerável. A velocidade de aquecimento, a temperatura final e os dias alvo para a implantação do SPIDES, por exemplo, têm um amplo intervalo dentro do qual o tratamento funciona bem. (AVIAGEM, 2017b).
O tratamento SPIDES bem implantado pode recuperar 60% ou mais da redução da eclosão que seria observada em ovos armazenados não tratados. Por exemplo, se houver uma perda de 10% na eclodibilidade por causa da armazenagem, implantar SPIDES pode melhorar a eclosão em 6-7%. A melhoria na eclosão é proporcional ao tempo de armazenagem dos ovos que recebem o tratamento. (AVIAGEM, 2017b).
Para que o SPIDES seja eficaz, a temperatura na casca do ovo deve estar entre 32ºC à 38,3ºC. O tempo necessário para alcançar a temperatura de 32ºC pode variar de acordo com o equipamento utilizado e também a sua carga. A quantidade de tratamentos, que os ovos receberão, vai estar ligado diretamente ao período de armazenagem dos ovos férteis. O início do tratamento deve ocorrer antes que a eclodibilidade caia, após os cinco dias de armazenados; e a repetição dos tratamentos deve ser a cada 5 ou 6 dias de intervalo, dependendo do período de armazenagem. (AVIAGEM, 2017b).
O tempo em que o ovo permanece acima de 32ºC incluirá também uma parte do período de resfriamento, portanto o SPIDES apresentará uma maior eficácia quando a duração do período em que a temperatura da casca dos ovos está acima de 32ºC for curto. Um tempo prolongado acima de 32ºC, especialmente se os tratamentos forem repetidos diversas vezes, não trará resultados tão bons quanto os conseguidos quando os ovos são resfriados imediatamente após a temperatura alvo ter sido alcançada. (AVIAGEM, 2017b).
Nutrição Animal – Agroceres Multimix
REFERÊNCIAS
AR, A. Egg water movements during incubation. In: TULLET, S.G. (ed). Avian Incubation. Buterworth-Heinemann: London, p. 157-173, 1991.
AVIAGEM. Manual Técino da Aviagem “Como…”. disponível: http://pt.aviagen.com/assets/Tech_Center/BB_Foreign_Language_Docs/Portuguese/Como…-Incubao-Portugus.pdf, acessado:16/05/2017.2017a.
AVIAGEM. Manual Técino da Aviagem “Como…”. disponível: http://pt.aviagen.com/assets/Tech_Center/BB_Foreign_Language_Docs/Portuguese/09HowTo9ImproveHatchabilityStoredEggs-PT.pdf, acessado:16/05/2017.2017b.
BAKST,M. R.; AKUFFO, V.; NICHOLSON, D.; FRENCH, N. Comparison of blastoderm traits from 2 lines of broilers before and after egg storage and incubation. Poultry Science. v. 91, p. 2645 – 2648, 2012.
BARBOSA, V.M., CANÇADO, F.V., BAIÃO, N.C., et al. Efeitos da umidade relativa do ar na incubadora e da idade da matriz leve sobre o rendimento da incubação. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.60, n.3, p.741-748, 2008.
BOLELI, I.C. Fatores que afetam a qualidade dos pintos. In: MACARI, M.; GONZALES, E. Manejo da incubação. 2 ed. Campinas: Fundação APINCO de Ciência e Tecnologia Avícolas. p. 394 – 434. 2003.
CALIL, T.A.C. Princípios básicos de incubação. In: CONFERÊNCIA APINCO 2007, SIMPÓSIO SOBRE INCUBAÇÃO, 2007. Santos. Anais… Campinas: Fundação APINCO de Ciência e Tecnologia Avícola, 2007.
CALIL, T.A.C. Inovação nos procedimentos de incubação, transferência e nascimento do pínto. In: MACARI, M.; GONZALES, E.; PATRÍCIO, I.S.; NAAS, I.A.; MARTINS, PC. Manejo da Incubação. 3.ed. Campinas: Fundação APINCO de Ciência e Tecnologia Avícolas, p. 347 – 348. 2013.
COBB-VANTRESS. Guia de Manejo de Incubação. p. 10, 2008.
DECUYPERE, E., MICHELS. H. Incubation temperature as a management tool: a review. World’s Poultry Science Journal, v. 48, p 28-38, 1992.
DE SMIT, L., BRUGGEMAN, V., TONA, J. K. Embryonic developmental plasticity of the chick: Increased CO(2) during early stages of incubation changes the developmental trajectories during prenatal and postnatal growth. Comp. Biochem. Physiol. A Mol. Integr. Physiol. 145:166–175, 2006.
ELIBOL, O.; PEAK, S.D.; BRAKE, J. Effect of flock age, length of egg storage, and frequency of turning during storage on hatchability of broiler hatching eggs. Poultry Science, v.81, p.945- 950, 2002.
FASENKO, G.M.; ROBINSON, F.E.; WHELAN, A.I. et al. Examining the effects of prestorage incubation of turkey breeder eggs on embryonic development and hatchability of eggs stored for four or fourteen days. Poultry Science, v.80, p.132-138, 2001.
FASENKO, G. M. Egg storage and the embryo. Poultry Science. V.86. p. 1020–1024. 2007.
FRENCH, N.A. Modelling incubation temperature: the effect of incubator design, embryonic development and egg size. Poultry Science, 76, 124 – 133, 1997.
FRENCH, N.A. The Critical importance of incubation temperature. Avian Biology Besearch. v. 2, p. 55 – 59, 2009.
MESQUITA, M.A. Estágio único versus estágio múltiplo de incubação de ovos férteis para produção de frangos de corte. Seminário do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás. Goiania. 2011.
MURAROLI, A.; MENDES, A.A. Manejo da incubação, transferência e nascimento do pinto. In: GONZALES, E.; MACARI, M. Manejo da incubação. 2.ed. Campinas: Fundação APINCO de Ciência e Tecnologia Avícolas, p.180- 198. 2003.
NICHOLSON, D.; FRENCH, N.; TULLETT, S.; LIERDE, E.V.; JUN,G. Short Periods of Incubation During Egg Storage – SPIDES. Lohmann Information. v. 48, p. 51, 2013.
SALAZAR, A. I. Retrospectiva de la incubación artificial y su futuro inmediato. Industria Avícola, v. 50, n. 2, p. 36–41, 2003.
SANTANA, M. H. M.; GIVISIEZ, P. E N.; JÚNIOR, J. P. F.; SANTOS, E. G. Incubação: Principais parâmetros que interferem no desenvolvimento embrionário de aves. Nutritime, v. 11, n. 2, p. 3387 – 3398, 2014.
SCHMIDT, G. S.; FIGUEIREDO, E. A. M.; ÁVILA, V. S. Incubação: Estocagem de ovos férteis. Comunicado Técnico Embrapa Aves e Suínos. Concórdia – SC. 2002.
SILVA, F. H. A. Influência dos tempos de aquecimento e armazenamento de ovos férteis de reprodutoras pesadas sobre a eclodibilidade e características de pintos de 1 dia. 2005. 102 p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo, São Paulo.