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Estratégias para suplementação de lipídeos em bovinos leiteiros

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O fornecimento de gordura para vacas leiteiras é cada vez mais comum no Brasil e no mundo, principalmente em rebanhos de alta produção, onde o principal objetivo é promover o adensamento energético das dietas para os animais em lactação.

Além de aumentar a densidade energética das dietas, estudos têm mostrado que a suplementação de gordura pode manipular a composição da gordura no leite e atuar positivamente no metabolismo, melhorando desempenho reprodutivo e imunidade dos animais.

No Brasil, as principais formas de suplementar gordura nas dietas são através de ingredientes que possuem alto teor de ácidos graxos (principalmente grãos cereais), ou de maneira isolada, principalmente na forma de gordura protegida (sais de cálcio).

Do ponto de vista nutricional existem dois tipos de ácidos graxos mais importantes, os saturados (ácidos palmítico e esteárico) e os insaturados (ácido oleico, linoleico e linolênico). A suplementação de gordura adensa energeticamente as dietas pelo fato de que lipídios fornecem 2,25 vezes mais energia por kg do que carboidratos; energia essa que não será fermentada e não gerando calor no rúmen.

Portanto, vacas de alta produção que tem alta demanda energética ou situações que levam à limitação de consumo podem responder positivamente à introdução de gordura na dieta.

De maneira geral as dietas não devem conter mais que 5% de ácidos graxos totais no início da lactação com limitação máxima de 7% nos demais estágios de lactação. Concentrações mais elevadas podem reduzir com consumo de matéria seca e reduzir a digestibilidade de fibra, mesmo que o perfil de ácidos graxos tenha pouco impacto na fermentação ruminal (Weld e Armentano, 2017).

A utilização de óleo de palma tem sido cada vez mais comum nos rebanhos brasileiros como fonte de gordura saturada por conter alta proporção de ácido palmítico (C16:0). Estudos apontam que maior adição de C16:0 na dieta aumenta a produção de gordura no leite devido à maior secreção do mesmo pela glândula mamária (Lock et al., 2013; de Souza et al., 2016., Dorea e Armentano, 2017).

Em geral, a suplementação de gordura saturada não altera o consumo de matéria seca, aumenta a produção de leite e o teor de gordura no leite. Geralmente as vacas respondem melhor à suplementação de ácido palmítico quando comparado com esteárico (Santos Neto, de Souza e Lock, 2021). Já os ácidos graxos insaturados passam pelo processo de biohidrogenação no rúmen, que nada mais é do que a saturação (redução das ligações duplas).

No processo de saturação ocorre a formação de ácidos intermediários, os famosos CLAs e alguns deles têm a capacidade de reduzir o teor de gordura no leite por inibição das enzimas lipogênicas na glândula mamária. De 60 a 90% dos ácidos graxos insaturados ingeridos pela dieta sofrem esse processo e quando o rúmen está em acidose uma maior proporção de CLA que deprime a gordura no leite é formada. Por outro lado, AGs insaturados dietéticos de 18 carbonos podem elevar a secreção de AGs C18 no leite, principalmente o ácido oleico (Stoffel et al., 2015)

Outro benefício que pode ser almejado com a suplementação de gordura em rebanhos leiteiros é a melhoria nos índices reprodutivos com aumento da taxa de concepção. Segundo uma revisão de 20 estudos, a taxa de concepção ao primeiro serviço aumentou 17% em 11 dos estudos. Os fatores que foram associados ao ganho incluem amenização do balanço energético negativo, melhor desenvolvimento folicular, estímulo da síntese de progesterona e modificação na produção e liberação de prostaglandina (Staples et al., 1998).

Em geral, as respostas com efeito positivo na reprodução de bovinos estão associadas à suplementação de ácidos graxos insaturados, principalmente os ácidos linoleicos e linolênicos (ômega-6 e ômega-3). O ácido oleico (C18:1) reduz a resistência à insulina e pode ajudar na reprodução reduzindo a mobilização, enquanto o ácido palmítico (C16:0) aumenta a resistência à insulina (de Souza et al., 2020).

C16:0 / C18:1 Respostas à suplementação em diferentes proporções de lípides (saturado/insaturado) versus controle. (de Souza et al, 2020)
Formulação por ácidos graxos (Jonas de Souza)

Portanto, estratégias de suplementação de gorduras em bovinos leiteiros podem e devem ser tomadas de acordo com o status fisiológico e estágio de lactação do animal explorando os diversos tipos de ácidos graxos disponíveis e seus efeitos no organismo da vaca.

De modo geral, gorduras com maior proporção de ácidos graxos insaturados têm sido recomendada no período de transição, pré e pós-parto, onde teremos efeitos benéficos em imunidade, reprodução e redução do BEN. Enquanto as gorduras saturadas podem ser suplementadas após o período de transição ou a partir do pico de lactação buscando incremento da produção e maior aporte energético. Na lactação a inclusão de ácidos graxos insaturados deve ser mais restrita devido ao efeito negativo na síntese de gordura no leite.

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