A produção pecuária moderna é pautada em alguns pilares, sendo eles a genética, a nutrição, a sanidade e a reprodução. Todas as ferramentas empregadas para a otimização da produção, em qualquer um desses pilares, leva a melhorias no desempenho zootécnico e ganhos para o produtor.
Especificamente na nutrição, uma das ferramentas para aumentar a eficiência produtiva e produzir proteína animal a pasto é o manejo de pastagens.
O manejo de pastagens, quando realizado de forma adequada, gera três efeitos principais:
- Aumento da quantidade e qualidade das forragens “colhidas” pelos animais;
- Perenidade das forrageiras e qualidade do solo (degradação, compactação e erosão);
- Aumento da capacidade de suporte (aumentando a eficiência de pastejo e a área para a suportar mais animais).
O manejo de pastagens pode ser definido como o conjunto de ações que envolvem fatores do solo, planta, animal e meio ambiente, com o objetivo de manutenção da estabilidade e produtividade da forrageira, promovendo a maior produção animal.
O desafio do manejo de pastagens está em ofertar uma quantidade adequada de forragem para satisfazer as exigências do animal garantindo, ao mesmo tempo, a sobrevivência da espécie forrageira pastejada.
É importante que o animal consuma forragem de qualidade e em quantidade suficiente para seu satisfatório desempenho, mantendo folhas remanescentes na pastagem, o suficiente para realizar a fotossíntese (principal mecanismo na nutrição dos vegetais), e não comprometer excessivamente as substâncias de reserva (carboidratos), utilizadas na rebrota após a desfolha.
O sistema de pastejo ideal busca maximizar a produção animal, ou por área, sem afetar a persistência das plantas forrageiras. Para entender melhor os sistemas de pastejo, especialmente em relação ao pastejo rotacionado, alguns conceitos devem ser conhecidos, como:
- Período de descanso: período de tempo em que não se permite a utilização de uma área de pastagem, ou seja, permite-se o descanso da área;
- Período de ocupação: tempo em que uma área específica é ocupada por um ou mais grupos de animais;
- Pressão de pastejo: relação entre o número de unidades-animal, em termos de peso vivo ou peso metabólico e a massa seca de forragem da pastagem;
- Taxa de Lotação: relação entre o número de animais e a unidade de área utilizada durante um período especificado de tempo (UA/ha).
Sistemas de manejo de pastagens
O ponto chave do manejo de pastagens é o ajuste nas taxas de lotação e da pressão de pastejo, independentemente do sistema de pastejo adotado. Esses parâmetros podem ser ajustados de acordo com a movimentação dos animais na propriedade e pode ser realizada de forma rotacionada, ou contínua.
Lotação contínua
Também chamado de manejo contínuo é o método de pastejo em que o rebanho permanece em um piquete, ou área, durante toda a estação de pastejo. Nesse caso, é praticada menor lotação de animais na área, quando comparado à lotação rotacionada, dado a menor eficiência de pastejo.
O pastejo contínuo pode ser realizado de duas maneiras: taxa de lotação fixa, ou variável. A lotação fixa não oferece controle nas condições da pastagem em relação a qualidade ou quantidade.
Já com lotação variável, pode-se alterar o número de animais assim como o tamanho da área, sendo o objetivo ajustar a pressão de pastejo, melhorando a qualidade e a quantidade de forragem oferecida ao animal. Porém, na prática, o uso desse método é mais complexo, pois exige muita mão-de-obra e movimentação dos animais para tirá-los e recolocá-los no pasto. Normalmente é um manejo realizado em pesquisa com animais suplementados a pasto.
Geralmente, no pastejo contínuo as áreas utilizadas são maiores em relação ao pastejo rotacionado, o que acaba dificultando o seu manejo. Nesse cenário, vemos pastos mais desuniformes, especialmente quando formados por forrageiras de porte alto, que formam touceiras (por exemplo – andropogon, tanzânia, mombaça e outros), o que acaba gerando um confundimento desse manejo com o conceito de produção extensiva.
Pastejo rotacionado
Também chamado de lotação rotacionada, nesse método de manejo as pastagens são subdivididas em piquetes, e os animais são movimentados pelos diversos piquetes de forma periódica.
A chave para o sucesso desse tipo de manejo é o momento de entrada e saída dos animais em cada piquete, assim como o período de descanso dos piquetes após a saída dos animais.
Como o crescimento das forrageiras varia ao longo das semanas, manter um período fixo de dias para determinar a entrada e saída dos animais nos piquetes não é a melhor opção. Por exemplo, não é interessante determinar que o período de ocupação será de 7 dias.
Assim, o parâmetro mais adequado e de fácil manejo para estabelecer o momento de entrada e de saída dos animais é a altura das forrageiras. Importante observar que cada forrageira terá a altura ideal para entrada e para saída dos animais.
As características desse sistema são:
- adotado em sistemas de produção a pasto mais intensificado;
- propicia condições para maior eficiência da colheita e da utilização da forragem pelos animais;
- proporciona utilização do pasto no momento de maior equilíbrio entre disponibilidade e qualidade da forragem;
- está associado à adoção de taxas de lotação mais altas e a uso de fertilizantes;
- propicia maior uniformidade do pastejo;
- exige maior investimento em cercas e bebedouros;
- requer maior controle gerencial do sistema de produção.
Novas metodologias no manejo de pastagens
Tanto o manejo de pastagens contínuo, quanto o rotativo possuem vantagens e desvantagens. Enquanto no contínuo é mais difícil controlar a oscilação no crescimento da forragem, o que pode acabar causando desuniformidade do pastejo e perda da eficiência de colheita pelo animal, no manejo rotativo o GMD (ganho médio diário) individual pode ser comprometido em prol da colheita da forragem e produção por área.
Pensando, então, em equilibrar ganho individual e colheita de forragem (eficiência de pastejo alta), outros modelos vêm sendo adotados a campo, como o manejo alternado e o manejo rotatínuo.
No método alternado, os lotes de animais se movimentam pela fazenda alternando os pastos, com períodos de ocupação e descanso maiores.
O conceito do manejo rotatínuo é caracterizado pela baixa intensidade de pastejo e alta frequência de retorno na faixa de pastejo (menor período de descanso). O método é baseado no comportamento ingestivo dos animais, priorizando maximizar a taxa de consumo de matéria seca. Nesse caso, os animais irão se alimentar das pontas de folha, que correspondem à fração do capim mais rica em nutrientes. É muito semelhante ao rotacionado, porém como o foco é o animal e o GMD, o “rodízio” acaba acontecendo mais rápido, priorizando o consumo de forragem pelo animal.
Régua de manejo de pastagens
Uma das ferramentas utilizadas para conduzir o manejo de pastagens é a régua de manejo de pastagens. Ela auxilia na avaliação direta da altura da pastagem.
Nos piquetes sob pastejo contínuo, a régua de manejo indica o momento de aumentar ou reduzir a lotação do pasto. Nos piquetes sob pastejo rotacionado, a régua de manejo indica o momento da entrada dos animais na pastagem e o momento de troca de piquete.
Além da régua de pastagem, existem outros métodos para auxiliar o produtor a definir a entrada e saída dos animais do pasto. Com o advento da zootecnia de precisão, novas metodologias estão sendo desenvolvidas como o uso de imagens de satélite e desenvolvimento de algoritmos para tomada de decisão sobre o manejo de pastagens, rotação de piquetes e ajuste de lotação.
Problemas no manejo de pastagens
O manejo de pastagens realizado de forma correta evita o subpastejo e o superpastejo. Ambos são economicamente desfavoráveis para o produtor no médio longo prazo, pois afeta a longevidade da pastagem, e não são ambientalmente sustentáveis.
Superpastejo
Ocorre quando há aumento da pressão de pastejo (número de animais/forragem disponível), por ocorrer devido à alta lotação do pasto. Nesse cenário, ocorre a competição pelo pasto e, consequentemente, a disponibilidade de forragem é reduzida fazendo com que os animais consumam partes menos nutritivas das plantas, como as partes mais baixas (com maior participação de hastes).
Além do prejuízo nutricional aos animais, o superpastejo também é prejudicial à planta e ao solo. O crescimento da parte aérea e do sistema radicular é reduzido, diminuindo a capacidade de absorção de água e nutrientes, levando à queda da produção e da qualidade da forragem, além de permitir o surgimento de invasoras que competem com a pastagem.
É importante ressaltar que as plantas daninhas, além de reduzir a capacidade de suporte e competir com as forrageiras pelos nutrientes do solo, também podem causar lesões nos animais quando apresentam espinhos ou, ainda, serem tóxicas.
Outro agravante é que o superpastejo contribui para acelerar os processos de compactação e de erosão do solo.
Subpastejo
No subpastejo há subdimensionamento da quantidade de animais em determinada área. O subpastejo permite seletividade dos animais por determinadas espécies e partes das plantas, o que lhes permite, inclusive, ingerir partes mais nutritivas da pastagem como a ponta do capim.
O problema é que as áreas não pastejadas acabam “passando” e perdendo o ponto de colheita. Nesse cenário, o animal começa a retornar em área já pastejada, resultando em grande desuniformidade do pastejo ao longo do tempo, comprometendo a eficiência de pastejo e consumo de forragem pelo animal.
Apesar da vida útil do pasto não ser afetada, não há o aproveitamento da forragem disponível de forma plena, o que acarreta redução da eficiência produtiva da propriedade.
De modo geral, para obter o aumento da longevidade do pasto, juntamente com a produtividade econômica as pastagens devem:
- ser bem formadas;
- livres de invasoras;
- com manejo adequado;
- respeitando a capacidade de suporte das forrageiras e suas exigências nutricionais;
- com níveis de nutrientes do solo compatíveis com o que é consumido pela planta.
Conclusão
Independentemente do sistema de pastejo a ser utilizado na propriedade, o manejo de pastagens deve ser baseado na oferta de pastagens de boa qualidade e quantidade para os animais de forma sustentável, sem degradar as pastagens e o solo, nem causar danos ao meio ambiente. Para isso, deve-se fazer a gestão das necessidades dos animais, das pastagens e do solo, visando produção, eficiência financeira e longevidade da atividade.
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