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Pecuária de corte: o que eu preciso saber antes de trabalhar com ela

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O que é pecuária de corte?

A pecuária de corte consiste na criação de bovinos com o objetivo de produzir carne, sendo o Brasil um importante player no mercado global de exportação de carne bovina, com um rebanho estimado em cerca de 190 milhões de cabeças, de acordo com dados da Athenagro.

Devido ao clima tropical, favorável à produção forrageira, e à vasta área agricultável, o Brasil desempenha um papel fundamental na produção de alimentos no cenário mundial.

No Centro-Oeste brasileiro, a pecuária é frequentemente praticada em associação com culturas agrícolas, através da integração lavoura-pecuária, ou em regiões com relevo e/ou solo não tão propícios para a prática agrícola, tais como áreas mais arenosas e terrenos acidentados.

Investimentos na pecuária

Iniciar na pecuária demanda investimentos muito menores em infraestrutura se comparado à agricultura, sendo que a maior parte do capital investido na atividade é mobilizado para a compra dos animais.

Porém, diferente do que já foi um dia, a margem praticada na pecuária tem girado em torno de 10 a 20%, dependendo do ano, sendo marcada por certa volatilidade dos preços ao longo dos últimos ano, dificultando “a vida” de alguns aventureiros e entrantes da atividade.

Dado as margens e os cenários recentemente observados hoje em dia, a pecuária exige eficiência produtiva e produtividade por área. Dentro da porteira, a paixão pelo gado pode até estar presente, mas a tomada de decisão pede licença para a emoção e dá espaço à razão.

A fazenda deve passar a ser vista como um negócio, uma empresa. Planejamento, gestão, execução, são palavras obrigatórias na mesa de um bom gestor pecuário.

Saber descrever a fazenda em números (previsto e realizado) torna-se fundamental para projetos que visem a sustentabilidade dos números.

Componentes do sistema produtivo

As bases para a pecuária a pasto são:

        • solo,
        • planta e
        • animal.

Ao escolher uma espécie forrageira para determinada região é fundamental considerar sua capacidade de adaptação às condições ambientais, climáticas e de disponibilidade de nutrientes do solo.

A produtividade da forragem estabelecida dependerá das características climáticas, tais como temperatura, horas de luz e chuvas, juntamente com a fertilidade do solo. É crucial escolher a espécie de capim adequada, já que um capim altamente produtivo, em condições adversas, pode resultar em produção inferior se comparado a outras cultivares.

O principal efeito do animal em pastejo sobre a planta forrageira é causado pela desfolha (consumo). A intensidade da desfolha reflete a proporção de forragem removida durante o pastejo.

Do ponto de vista da planta, a desfolha é uma agressão, provocada pelo animal, que demanda mobilização de energia e nutrientes para seu reestabelecimento. Quando a intensidade da desfolha é muito alta e reduz a quantidade de folhas residuais, a capacidade da planta de realizar fotossíntese fica comprometida.

Isso resulta na mobilização de nutrientes e energia da raiz para a tentativa de restabelecer a área foliar e produzir energia. O manejo inadequado do pasto, que não respeita a dinâmica de remoção e restabelecimento de tecidos da planta, leva à degradação das áreas e redução da capacidade de suporte do pasto, uma vez que as plantas com raízes menores ficam mais fracas e susceptíveis a invasoras.

Do outro lado do manejo do pasto está o animal, que se alimenta do pasto, consumindo a forragem. O ganho de peso dos animais é determinado pelo consumo de forragem.

Os animais têm preferência pelo consumo de folhas, portanto, quanto mais favorável a apreensão de forragem, maior será o consumo e, consequentemente, o ganho de peso. A facilidade de consumo e apreensão de forragem está relacionada à estrutura do pasto, ou seja, à forma e quantidade de folhas presentes na massa oferecida aos animais.

É importante considerar a estrutura física do pasto oferecido aos animais.

Ainda na perspectiva do animal, a carga genética, a categoria ou classe sexual e o histórico nutricional são fatores que influenciam a conversão da alimentação em ganho de peso.

Manejo eficiente na pecuária a pasto: Solo, Planta, Animal

pecuária de corte
O que eu preciso saber antes de entrar na pecuária de corte

Para um manejo eficiente da pecuária a pasto, é fundamental compreender os três fatores básicos do sistema: solo, planta e animal.

É necessário saber como otimizar a produção de cada um desses elementos isoladamente e entender como eles interagem entre si. A adoção de tecnologias, como a adubação e a suplementação, pode ser benéfica para aumentar a produtividade, desde que aplicada de forma adequada e em harmonia com o ecossistema do sistema de produção.

Portanto, é essencial que o manejo da tríade solo, planta e animal seja realizado de forma equilibrada e sustentável para alcançar resultados positivos a longo prazo. De acordo com Hodgson (1990), no processo de produção animal a pasto deve-se levar em consideração:

        • Estádio de crescimento da planta: a produção de forragem será influenciada pelo potencial genético da forrageira e pelos fatores ambientais;
        • Consumo da forragem produzida;
        • Conversão da forragem consumida em produto animal: a forragem consumida é metabolizada no organismo do animal, gerando carne como produto.

Vale destacar que, em sistemas integrados, as pastagens beneficiam-se da melhor fertilidade química do solo, como resultado do efeito residual da adubação praticada na lavoura, favorecendo o crescimento das forrageiras.

 

pecuária de corteFases do sistema de produção

A atividade pecuária de corte compreende três fases distintas:

        • cria,
        • recria e
        • engorda.

Os produtos de cada fase são, respectivamente:

        • bezerros,
        • boi magro e
        • boi gordo.

Algumas propriedades pecuárias se especializam em apenas uma das fases, enquanto outras combinam duas ou mais, sendo as mais comuns as fazendas de cria, recria e engorda, ou as que adotam o ciclo completo.

A escolha da estratégia de produção mais adequada depende de diversos fatores, como o perfil do mercado consumidor, o custo dos insumos e a disponibilidade de recursos financeiros e humanos na propriedade.

Pecuária de corte: Cria

cria bovinos de corte genética
O que eu preciso saber antes de entrar na pecuária de corte

 

A fase de cria é a mais longa das três fases da atividade pecuária de corte, uma vez que compreende desde o nascimento da bezerra até ela estar apta para reproduzir. Durante esse período, a bezerra passa por um processo de crescimento, prenhez, gestação, parição, até desmamar seu primeiro bezerro com cerca de 7-8 meses de idade.

Levando em consideração todo esse ciclo, podemos afirmar que são necessários aproximadamente quatro anos, desde o nascimento da matriz, para a entrega do primeiro bezerro à fazenda.

A reprodução dos bovinos é afetada por diversos fatores, incluindo a condição corporal e o suprimento de alimento disponível. Embora os bovinos possam manifestar cio durante todo o ano, a época mais adequada para a reprodução é durante a primavera e o verão, quando a oferta de forragem é abundante e de alta qualidade.

É nesse período que se recomenda a utilização de touros ou a inseminação artificial para maximizar as chances de sucesso na reprodução.

Neste contexto, a estação de monta é uma técnica de manejo que pode proporcionar elevadas taxas de prenhez das matrizes e viabilidade das crias, desde que estabelecida de forma estratégica. Além disso, esta prática proporciona ao criador o conhecimento da real situação reprodutiva das matrizes, o que é essencial para o planejamento da substituição e descarte daquelas que não emprenharam durante a estação de reprodução.

A estação de monta tradicional ocorre de outubro a março, com nascimentos de julho a dezembro, e a desmama dos bezerros ocorre entre abril e junho do ano seguinte.

Para obter sucesso na reprodução dos animais é fundamental que eles estejam em boas condições de saúde e nutrição, especialmente durante a estação de monta. Os fatores que interferem na fertilidade dos animais são diversos, porém, a condição corporal é um dos mais importantes.

Animais com baixa condição corporal têm menor probabilidade de emprenhar, pois a energia que seria destinada à reprodução é utilizada para manter as funções vitais do organismo. Além disso, é essencial que as fêmeas estejam aptas para a reprodução na época da estação, o que inclui o desenvolvimento adequado dos órgãos reprodutivos e um ganho de peso moderado.

Portanto, é importante que o manejo da pecuária seja feito de forma a garantir a nutrição e a saúde dos animais durante todo o ano, visando maximizar as chances de sucesso na estação de monta.

Recria

recria bovinos de corte
O que eu preciso saber antes de entrar na pecuária de corte

A fase de recria começa após a desmama dos bezerros, quando estes passam a ser chamados de garrotes. No Brasil, a duração média dessa fase é de 24 a 30 meses e o peso desejado ao final varia de 10 a 14 arrobas.

O objetivo é garantir que os animais cresçam adequadamente, desenvolvendo estrutura corporal e formação de carcaça para a fase seguinte.

Na recria, o grande desafio é alinhar as exigências nutricionais do animal às variações na qualidade e disponibilidade de forragem. É essencial utilizar a suplementação como ferramenta para corrigir e/ou potencializar o uso da forragem consumida pelos animais, a fim de garantir um desenvolvimento saudável e eficiente dos animais, reduzindo o tempo de recria.

Pecuária de corte: terminação

A última fase da produção do gado (dentro da porteira) é a terminação, também conhecida como engorda, cujo objetivo é alcançar um animal com alto peso e gordura para o abate.

Embora a maior parte do gado no Brasil seja terminado a pasto, com baixos níveis de suplementação, a terminação a pasto pode apresentar desafios em relação ao fornecimento adequado de energia para promover um crescimento eficiente e um bom acabamento e uso da carcaça. Isto porque, à medida que o peso do animal aumenta, a composição do ganho e a exigência nutricional também mudam, aumentando a demanda por energia.

Nesse cenário, o confinamento ou a terminação intensiva a pasto (TIP) surgem como alternativas para melhorar a eficiência da engorda, permitindo o fornecimento de uma dieta formulada especificamente para atender às demandas nutricionais específicas dessa fase.

Sistemas de Produção

Os sistemas de produção de bovinos de corte no Brasil são bastante diversificados e podem ser divididos em três categorias principais:

        • extensivo,
        • semi-intensivo e
        • intensivo.

Cada categoria apresenta suas próprias características e desafios, sendo que a escolha de um sistema de produção depende de diversos fatores, como:

        • disponibilidade de recursos,
        • mercado consumidor,
        • localização geográfica e
        • habilidades do produtor.

Sistema Extensivo

O sistema extensivo é caracterizado pela criação em grandes áreas, com baixo uso de tecnologia e mão-de-obra. Esse sistema é muito comum em regiões de pastagem nativa, onde a sazonalidade forrageira pode comprometer a produtividade.

Embora apresente um baixo custo de produção, o sistema extensivo pode proporcionar dificuldades no que diz respeito a manter a viabilidade e a sustentabilidade no longo prazo.

Sistema Semi-intensivo

Já o sistema semi-intensivo é mais focado na recria e engorda dos animais, com maior uso de suplementação no cocho, associada ao manejo de pastagens. Essa estratégia tende a aumentar o desempenho dos animais e melhorar a rentabilidade na atividade.

Sistema Intensivo

Por fim, o sistema intensivo é o mais tecnificado e voltado a aumentar a produtividade e eficiência do sistema produtivo. Esse sistema é mais comum em projetos de terminação, onde exige-se uma carcaça pesada e com bom rendimento.

É nesse sistema que vemos maior adoção do confinamento como ferramenta de manejo e ajuste de lotação/produção. Apesar de ser mais comum na fase de engorda, hoje já existem grandes projetos de cria e recria intensificados.

pecuária de corte confinamento
O que eu preciso saber antes de entrar na pecuária de corte

Cada sistema de produção tem seus prós e contras, cabendo ao produtor escolher o que melhor se adapta às suas condições e objetivos. Uma gestão adequada dos sistemas de produção, com uso de tecnologias e práticas sustentáveis, pode aumentar a produtividade e a rentabilidade da fazenda.

Está pensando em entrar na pecuária de corte?

Agora que você já conhece os principais pontos relacionados aos sistemas produtivos, é importante que esteja ciente das demandas que o negócio envolve para, então, ingressar na atividade pecuária.

Além de conhecer o comportamento do mercado e adquirir conhecimentos técnicos, é necessário dispor de investimento financeiro para a aquisição, ou arrendamento de terras, instalações, animais e equipamentos, bem como para a compra de insumos.

O planejamento estratégico também é fundamental, incluindo a definição clara dos objetivos e do plano de produção que levará ao lucro desejado. É essencial também considerar o gerenciamento de riscos e a estruturação da cadeia de suprimentos.

Buscar parcerias e network, especialmente com fornecedores de insumos e transportadores, pode ser um diferencial importante no sucesso do negócio.  Com esses pontos em mente, é possível planejar e gerir a atividade pecuária com maior eficiência e segurança.

Para você que está pretendendo começar na pecuária de corte, também indicamos uma série de vídeos exclusivos com nosso especialista Matheus Moretti que fala sobre o ágio, pasto e suplementação para que você passe a avaliar os custos diários da sua fazenda, clique e saiba mais.

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