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Silagem de milho na pecuária leiteira

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silagem de milho

A silagem de milho é uma das principais fontes de forragem utilizada na dieta de vacas leiteiras brasileiras de alta produção. Ela contribui com energia e fibra para o gado leiteiro, sendo o amido a principal fonte de energia na silagem de milho.

O uso da silagem na alimentação animal é antigo, e surgiu pela necessidade de estocar alimento para ser usado em períodos de escassez. Inclusive, seu uso é relatado há cerca de 1500 a 1000 anos a.C. pelos egípcios. No Brasil, o uso da silagem é relatado a partir de 1875, em São Paulo, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ). Porém, somente a partir de 1920 a prática foi, de fato, difundida e ganhou relevância na produção pecuária.

No Brasil, o uso da silagem iniciou visando o armazenamento de forragem para alimentar animais no período da seca, quando as pastagens ficam com baixo rendimento e baixa capacidade de suporte.

Porém, atualmente sua função é mais ampla, pois a silagem consiste em um alimento volumoso de alta qualidade energética, que proporciona dietas mais econômicas e leva ao aumento do desempenho animal. Assim, o uso da silagem se tornou imprescindível para a pecuária leiteira.

Mas o que é, de fato, a silagem?

A silagem pode ser entendida como o produto resultante da conservação estável de forragem para alimentação animal, sob anaerobiose (ausência de oxigênio), em que são produzidos ácido láctico e outros ácidos orgânicos, que reduzem o pH da massa. Ou seja, a silagem é o produto do processo de conservação de forragem, através da fermentação dos açúcares em ácidos orgânicos em ambiente anaeróbio.

Silagem

X

Ensilagem

É o produto resultante da fermentação na ausência de oxigênio por acidificação do material verde vegetal

É o processo que dá origem a silagem, envolve o corte da planta, enchimento do silo, compactação e vedação

 

É possível produzir silagem com diversas matérias-primas diferentes. Entretanto, o milho, o sorgo e o capim-elefante são as principais forrageiras utilizadas, sendo o milho a mais comum e de maior valor nutritivo dentre os três citados.

A composição química da silagem de milho é influenciada por:

      • tipo de híbrido,
      • práticas agronômicas,
      • crescimento da planta,
      • condições de ensilagem e estágio de maturidade da planta na colheita,
      • além das boas práticas durante a ensilagem.

Como produzir silagem de milho?

O objetivo essencial na preservação de culturas por fermentação natural, como a silagem, é a obtenção de condições anaeróbicas. Na prática, isso é feito cortando a matéria-prima durante a colheita, enchendo rapidamente o silo, compactando e, finalmente, selando adequadamente o material.

O cultivo de milho para silagem é muito proveitoso em termos de energia digestível por área, devido a sua alta produção de massa e qualidade nutricional obtida, alto teor de energia e baixo de proteína. A qualidade nutricional da silagem de milho faz com que ela seja muito utilizada como energia suplementar na produção de bezerros, novilhas e vacas em lactação.

Algumas vantagens do uso do milho como matéria prima para silagem são:

      • Antecipação do uso do milho: o estádio do milho para ser usado tradicionalmente na ensilagem é anterior ao estádio do milho grão para reduzir os riscos climáticos ao final do ciclo da cultura, ataques de pragas e doenças;
      • Colheita mecanizada: essa possibilidade reduz os custos com mão-de-obra e tempo de trabalho;
      • Flexibilidade da cultura: o produtor pode decidir, ao longo do cultivo do milho, qual área será destinada para ensilagem e qual área para grão;
      • Boa aceitação pelos animais;
      • Ampla gama de híbridos disponíveis no mercado.

O milho pode ser utilizado para produzir três tipos de silagem:

silagem de milho

      • Silagem de planta inteira, que é a mais conhecida e utilizada. Como o próprio nome já diz, a planta de milho é cortada junto ao solo. O teor de matéria seca no momento do corte deve ser acima de 35%, se a máquina for automotriz. Se forem utilizadas máquinas menores, de uma ou duas linhas, sem quebrador de grãos, o ideal é que a matéria seca esteja entre 30-33% e seja picada com tamanho de partícula menor para que não fiquem grãos inteiros;
      • Silagem de espiga feita a partir da espiga o que reflete em menor percentual de fibra e maior digestibilidade;
      • Silagem de grão úmido, que utiliza somente os grãos de milho, colhidos entre 35 e 40% de umidade.

Um dos fatores determinantes para a produção de uma silagem de qualidade é a determinação do momento certo da colheita. Uma das maneiras de avaliar o ponto de colheita é pela consistência do grão, podendo ser determinado como grão leitoso, farináceo, pós-farináceo e duro. Outra maneira é pela observação da linha de leite.

silagem de milho
Fonte: https://www.forfarmers.co.uk/dairy/dairy/news-knowledge-and-advice/when-is-maize-ready-to-harvest.aspx

Alguns fatores são importantes a serem observados para uma ensilagem de qualidade:

Estádio vegetativo

Com o aumento da idade das plantas há maior produção de matéria seca, porém também ocorre:

      • elevação nos teores de compostos estruturais (ex. celulose, hemicelulose e lignina),
      • diminuição do conteúdo celular (ex. carboidratos e proteína),
      • redução na relação folha/colmo.

Condições climáticas

Desse modo, as plantas mais velhas possuem menor qualidade nutricional para produção de silagem. Condições climáticas, como a ocorrência de chuvas durante a ensilagem, causam perdas de rendimento e qualidade, que reduzem o valor da silagem como alimento animal e mercadoria comercializável.

Perdas induzidas pelo clima podem ser causadas por respiração aumentada e prolongada da planta, que reduz os carboidratos solúveis e o conteúdo energético total da forragem. A lixiviação dos carboidratos solúveis, proteínas e certos minerais também ocorre por interferência da chuva durante a ensilagem.

A lixiviação é o movimento de solúveis celulares para fora da planta. Componentes da planta que são muito solúveis em água, são lixiviados da forragem e perdidos durante a ocorrência de chuva no processo de ensilagem. Infelizmente, a maioria desses compostos é aquela altamente digerida pelo animal, incluindo:

      • carboidratos prontamente disponíveis,
      • nitrogênio solúvel,
      • minerais e
      • lipídios.

Picagem e compactação da forragem

O corte e a picagem na ensilagem melhoram O corte e a picagem na ensilagem melhoram a disponibilidade do substrato para as bactérias ácido láticas, contribuindo para a compactação e remoção de oxigênio de forma mais eficaz, resultando em uma fermentação lática rápida. O tamanho da partícula picada interfere na qualidade e digestibilidade da silagem, especialmente na sua distribuição, compactação no silo e retirada para oferta aos animais.

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Silagem menos picada, com presença de palhas.
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Silagem bem picada, com tamanhos proporcionais.

O tamanho da partícula também afeta a mastigação, a ruminação e a digestão da silagem, podendo facilitar o acesso dos microrganismos do rúmen aos nutrientes da planta.

O objetivo da compactação é realizar a retirada de oxigênio da silagem, controlando a respiração do material ensilado. A compactação deve ser realizada em camadas, de forma intensa, contínua e rápida. Após o enchimento e compactação, deve-se vedar o material ensilado.

Eficiência de armazenamento

O principal objetivo da vedação é evitar a reentrada e a circulação de ar durante o armazenamento, mantendo o ambiente da ensilagem em anaerobiose (ausência de oxigênio).

Nesse período, o contato do oxigênio com a forragem por qualquer período de tempo leva à atividade microbiana aeróbica e o material se decompõe, tornando-se impróprio para alimentação animal.

A vedação é realizada utilizando-se uma lona resistente para cobrir todo o material. Uma vez o material seja coberto com lona, é colocada uma camada de terra, ou outro material sobre a cobertura para evitar que a lona se solte, fazendo pressão sobre a silagem.

Um processo de ensilagem e vedação mal executado, lento, ou que permita a entrada de oxigênio, favorece a lise celular, proteólise e crescimento microbiano aeróbio, que deterioram a silagem. Vale destacar que a deterioração causada pela presença de oxigênio pode levar a:

      • produção de fungos e suas micotoxinas,
      • crescimento de microrganismos patogênicos e
      • redução da palatabilidade da silagem.

Resumidamente, o processo de ensilagem começa com o corte da cultura, enchimento do silo, compactação e vedação. A atividade respiratória da matéria orgânica continua até que o silo seja fechado e as condições ácidas sejam alcançadas no silo. Todo o processo pode ser dividido em quatro fases diferentes:

Fase I: começa imediatamente após selar o silo. As células vegetais continuam a respirar até que o oxigênio aprisionado se esgote, de modo que a duração da fase I depende da quantidade de oxigênio presente no silo. O dióxido de carbono produzido torna o silo anaeróbico, favorecendo o crescimento de bactérias anaeróbicas.

Fase II: Na fase inicial, há degradação de proteínas e aminoácidos, com produção de amina e ácido acético. As bactérias produtoras de ácido láctico também são aumentadas.

Fase III: As bactérias produtoras de ácido lático dominam, levando ao aumento do teor de ácido lático e redução do pH do material ensilado. A presença de carboidratos prontamente disponíveis auxilia no aumento da população bacteriana desejada.

Fase IV: Esta fase é bastante variável e dependente da fase III. Se o pH for reduzido para cerca de 4,0, a silagem é estável e não ocorre mais degradação. Se não for produzido ácido suficiente para reduzir o pH em torno de 4,0, a atividade microbiana ainda continua. Inicia-se a degradação do ácido lático em ácido butírico, o que prejudica o cheiro e a aceitabilidade da silagem, devido à ação dos clostrídios. Altos teores de umidade favorecem esta fermentação indesejável.

Desse modo, pode-se perceber que não há um período exato para determinar a abertura do silo. Porém, sugere-se que silagens de milho devem ser fermentadas por aproximadamente 21 dias, no mínimo, antes de serem fornecidas aos animais.

Para um entendimento melhor do tempo de fermentação da silagem do milho, sugerimos o ebook “Silagem de milho: quanto mais velha, melhor?”

Desensilagem

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Manejo da Silagem

Após realizar o processo de ensilagem de forma correta, é importante também se atentar para alguns cuidados durante a desensilagem, ou seja, durante a retirada gradual de partes da silagem para oferta aos animais.

O ponto crítico dessa etapa é a deterioração aeróbia, causada pelo contato da silagem com o oxigênio, afetada principalmente pela taxa de retirada diária de silagem e a maneira como é retirada. O ideal seria retirar pelo menos 15 cm da face toda do silo, de forma homogênea, para evitar perdas.

Outros fatores importantes a serem considerados são:

      • temperatura ambiente,
      • constituição dos microrganismos presentes,
      • pH e
      • produtos da fermentação.

Considerações finais

O uso da silagem de milho na pecuária leiteira aumentou significativamente ao longo das últimas décadas e, ao lado do capim, tornou-se o principal componente forrageiro na ração de vacas leiteiras.  A inclusão de silagem de milho, à base de capim, em dietas de vacas leiteiras, aumenta o consumo de ração, a produção de leite e o teor de proteína do leite.

Porém, apesar de ser muito utilizada, diversos cuidados devem ser tomados durante a ensilagem do milho a fim de se obter um volumoso rico em energia e fibra para o gado leiteiro.

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