Início Suínos Alimentação de matrizes modernas, um desafio para os nutricionistas e produtores!

Alimentação de matrizes modernas, um desafio para os nutricionistas e produtores!

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Nos últimos dez anos, as matrizes suínas passaram por grandes mudanças, sobretudo, nos processos de seleção genética. Tiveram que produzir leitegadas mais numerosas e, para isso, se adaptaram em maior capacidade uterina, placentária, produtividade de leite e eficiência reprodutiva.

As raças domésticas não foram submetidas à mesma intensidade de melhoramento genético e, por isso, produzem aproximadamente 20 a 24 leitões por ano, ao passo que as matrizes modernas comumente desmamam hoje mais de 33 a 35 leitões ao ano. Vamos concluir que segue a passos largos a seleção genética para que as matrizes modernas desmamem mais de 40 leitões ao ano.

Estima-se que os fetos suínos tornaram-se 40% mais pesados e a produção de leite aumentou em 4 vezes nos últimos 50 anos de seleção genética.

No entanto, os últimos 15 anos de seleção genética, segundo Moreira et al. (2020), levaram a um aumento no tamanho da leitegada. E quando comparamos os parâmetros dos suínos atuais e os nascidos antes do advento da hiperprolificidade, nos deparamos com:

        • a redução do peso médio dos leitões ao nascimento e
        • um decréscimo na ingestão de colostro por parte dos leitões ao nascimento.

Com essas mudanças na qualidade física dos leitões nascidos, houve um aumento da vulnerabilidade das leitegadas e redução do potencial de crescimento dos leitões nascidos das matrizes suínas (Valmand et al., 2015).

leitões matrizes modernas

O baixo peso do leitão ao nascer pode acarretar maior taxa de mortalidade pós-natal e prejudicar o seu desempenho subsequente.

        • Leitões menores apresentam baixa ingestão de leite e colostro, pois há disputa durante a mamada.
        • Leitões maiores levam vantagem ao competir pelos melhores tetos com leitões menores o que, consequentemente, interfere na imunidade passiva (Gondret et al., 2006).

Para reduzir a incidência de leitões com baixo peso ao nascimento é importante conhecer os fatores que influenciam diretamente nas exigências das fêmeas suínas durante cada fase da gestação e adicionar componentes à dieta que possam auxiliar no redirecionamento dos nutrientes para os tecidos mais demandados.

Ambiência

O suíno é um animal adaptado à vida em temperaturas amenas, abaixo de 25°C. Quando trouxemos os suínos para a condição tropical e os submetemos a condições de estresse térmico, perdemos parte do seu potencial produtivo, sendo que isso tem relação direta com a redução do consumo de alimentos.

Por essa razão, a climatização das maternidades, bem como instalações confortáveis, são primordiais para que as granjas obtenham o máximo potencial das matrizes.

Sob condições tropicais, a suplementação de gordura das dietas pode aumentar a ingestão de alimentos e, consequentemente, o consumo de energia. Entretanto, a própria gordura é um nutriente limitador do consumo, podendo causar efeito contrário se não for bem administrada.

Hábitos alimentares

Por falar em consumo voluntário de ração, aí temos um grande universo para ser estudado, porque as matrizes suínas, por mais que sejam da mesma linhagem genética, são muito diferentes em hábitos alimentares.

        • As primíparas ainda não desenvolveram a plena capacidade do estômago, nem seu corpo atingiu o peso adulto. Por isso, têm muita dificuldade em consumir grandes volumes de ração de lactação, apesar de produzirem tantos leitões quanto as adultas;
        • Alguns animais dos lotes nunca consumirão volumes elevados, por características próprias e;
        • As fêmeas de ordem de parto mais elevada consomem grandes volumes, mas já não suportam uma leitegada numerosa, porque já perderam os tetos.

As porcas lactantes podem não alcançar seus requerimentos nutricionais somente através do consumo de ração, especialmente as matrizes hiperprolíficas por causa da alta demanda das leitegadas numerosas. O consumo das matrizes é estimulado pelo tamanho e vigor da leitegada, que eleva a produção de leite da matriz à medida que aumenta a sucção.

Conforme o desequilíbrio entre a ingestão de nutrientes e a demanda para produção, ocorrerá a mobilização corporal de tecidos de reserva. A mobilização de tecidos de reserva é um processo fisiológico e benéfico até o ponto em que exceda a tolerância orgânica das matrizes e coloque a sobrevivência da própria genitora em risco.

Nesses casos, os mecanismos hormonais relativos ao estresse oxidativo sinalizarão ao organismo a necessidade de priorização da sobrevivência materna e redução dos nutrientes para as funções reprodutivas subsequentes.

A produção de leite é aparentemente comprometida quando a perda de peso da matriz excede 10% do seu peso corporal, ou a ingestão de energia é menor que 25% da demanda diária dos animais, (Clowes et. al., 2003).

É pouco provável atingir alto desempenho em matrizes modernas sem introduzir novos conceitos na nutrição dessa categoria, dado que as porcas hiperprolíficas perdem quantidades significativas de energia durante a lactação, pois as fêmeas estão produzindo cada dia mais leitões e, consequentemente, mais leite.

Produção de leite

Muito fatores influenciam a produção de leite pelas matrizes suínas, destacando-se os níveis hormonais sistêmicos e locais que regulam a síntese do leite e a proliferação dos tecidos secretores da glândula mamária, além da disponibilidade de nutrientes oferecida pela circulação sanguínea local e a capacidade e vigor de sucção dos leitões amamentados.

Por isso, a manipulação da composição alimentar é um dos caminhos que podemos utilizar para dar maior suporte nutricional às matrizes modernas. Afinal, sabe-se que os animais se tornaram mais produtivos e mais exigentes em nutrientes específicos, como a energia e a lisina, enquanto elementos tradicionais, e os nutrientes funcionais, como os partidores de energia ou, ainda, as vitaminas e minerais que atuam como cofatores em processos oxidativos.

Estratégias nutricionais para matrizes modernas

Existem vários tipos de aditivos que podem ser utilizados para melhorar o desempenho das porcas na gestação e lactação. Dentre os aditivos estão os moduladores nutricionais, que podem ser sintéticos de análogos hormonais, como a somatotropina ou hormônio recombinante do crescimento suíno (pST), ractopamina, (um beta-agonista), L-carnitina, L-arginina e cromo, que tem a função de alterar a partição da energia e o fluxo de nutrientes em nível placentário e tecidual.

A ciência tem se dedicado a gerar conhecimentos para a nutrição das matrizes modernas. Porém, há mais conhecimento sobre a modulação das respostas produtivas que pode ser agregado à nutrição das matrizes suínas.

Há mecanismos e ingredientes moduladores nutricionais que podem contribuir para a máxima utilização das fontes nutricionais básicas, para que as matrizes consigam elevar a produção de leite. O desafio dos nutricionistas de suínos é traduzir os conceitos científicos em dietas balanceadas que possam:

        • aumentar a sobrevivência de embriões,
        • aumentar a taxa de transferência de nutrientes das placentas para os fetos,
        • aumentar a captação de nutrientes nas glândulas mamárias e, assim, conseguir fazer com que a matriz suína se torne capaz de produzir mais leite, ou produzir maior proporção de alguns nutrientes do leite, impulsionando o ganho de peso e sobrevivência das leitegadas.

Também há espaço na nutrição das matrizes para ampliar a saúde, tornando-as mais longevas a partir de nutrientes direcionados aos cascos e membros mais resistentes para que sejam mais resilientes aos desafios ambientais e reprodutivos.

 

Nutrientes

leitões
Crédito: Pattakorn Uttarasak/Shutterstock

A somatotropina atua no transporte de glicose na membrana celular, alterando a expressão gênica e a atividade do transportador de glicose. Além de aumentar o peso dos leitões, ela é capaz de afetar o desenvolvimento dos mesmos após o desmame.

Os efeitos positivos da administração da somatotropina podem estar relacionados com a elevação dos níveis de IGF-I, que atua na proliferação e diferenciação das células miogênicas, melhorando o crescimento dos leitões após o nascimento.

A L-carnitina tem função fundamental na geração de energia pela célula, sendo que um dos mecanismos de ação da L-carnitina está associado ao aumento nas concentrações de insulina e IGF no sangue durante a gestação. A insulina influencia na foliculogênese e desenvolvimento embrionário (Musser et al., 1999).

Já a arginina é utilizada em diversas vias metabólicas, incluindo a síntese de óxido nítrico, poliaminas e creatina, sendo o óxido nítrico e as poliaminas essenciais ao crescimento placentário e à angiogênese, podendo aumentar a disponibilidade de nutrientes para os fetos (Almeida, 2009).

As exigências de proteína e aminoácidos aumentam durante a gestação devido ao crescimento dos fetos e estruturas relacionadas ao desenvolvimento da glândula mamária.

Sendo assim, para obter um melhor desempenho reprodutivo das porcas, leitegadas de maior peso e uniformidade, é necessária a suplementação de aminoácidos durante a gestação (Fonseca, 2016).

O cromo na nutrição proporciona um incremento na sensibilidade celular à insulina, o que influencia o metabolismo dos carboidratos, lipídios e proteínas (Mertz, 1993). É considerado um modulador nutricional com potencial para:

        • aumentar a taxa de crescimento,
        • melhorar a eficiência alimentar,
        • melhorar a porcentagem de carne magra na carcaça,
        • melhorar a eficiência e a rentabilidade da produção (LINDEMANN et al., 1995).

Aminoácidos como a metionina, histidina, além da vitamina C, favorecem a absorção do cromo no organismo animal (García & Garns, 2004).

Pressão produtiva

A pressão produtiva sobre as matrizes hiperprolíficas pode sobrecarregar outros sistemas que não o reprodutivo ou mamário. Como exemplo, pode ocorrer perda da resistência orgânica frente a desafios sanitários, ou ambientais.

A ativação do sistema imune da porca em lactação influencia o consumo de ração e desempenho produtivo da mesma.

Sauber et al. (1999) verificaram que a ativação do sistema imune reduziu em 10% o consumo de alimento e em 12% o ganho de peso da leitegada na maternidade.

A anorexia, um sintoma de ativação do sistema imune, é mediada pelas citocinas. Por isso, a modulação da resposta imune pode ser realizada através do fornecimento de alimentos funcionais, que mantêm funções estimuladoras de resposta imune desejável nos intestinos, ou nos próprios órgãos linfóides, além de serem fontes de nutrientes tradicionais como proteínas e energia e minerais.

Considerações finais

Como vocês notaram, através das dietas há muitas oportunidades metabólicas e nutricionais para modular a utilização de energia e a resposta imune das matrizes suínas modernas, buscando nutri-las de forma mais ampla possível, para que os objetivos produtivos sejam possíveis para a maioria dos sistemas de produção.

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