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Suplementação a pasto: uma reflexão além do custo-benefício

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suplementação mineral

É inquestionável o papel da suplementação de bovinos de corte na melhoria no GMD (Ganho Médio Diário) e sua importância no processo de intensificação e aumento de produtividade da fazenda. No entanto, é essencial reconhecer que o sucesso de qualquer estratégia não se mede apenas pelo balanço entre desembolso e ganho de peso esperado.

Isso, porque a escolha da melhor estratégia de suplementação deve considerar pontos relacionados a estrutura e capacidade operacional da fazenda.

Alcançar o GMD esperado depende de como a estratégia de suplementação é executada e administrada ao longo do tempo, uma vez que os resultados obtidos não são meros produtos de fórmulas financeiras e planilhas de Excel, mas sim reflexos diretos da qualidade da execução das tarefas e da habilidade de gestão dentro da porteira da propriedade.

Neste artigo vamos falar um pouco das diferenças entre as estratégias de suplementação, que devem ser consideradas na tomada de decisão, por interferirem diretamente na execução e resultado esperado.

O que esperar de cada estratégia de suplementação?

Vejo pecuaristas e técnicos investindo tempo e esforço na avaliação das alternativas disponíveis, questionando a viabilidade ou não das diferentes estratégias de suplementação. Confesso que ver discussões desse nível já é motivo de alegria, uma vez que é comum nos depararmos, no campo, com muitos achismos e opiniões sem embasamento, que deixam a ciência dos números de lado.

É obrigação de um bom técnico saber o que esperar de cada estratégia. Afinal, ter essas informações em mãos é o que permite discutir junto ao pecuarista a viabilidade, ou não, das estratégias de suplementação.

Para provocar um pouco, gostaria de desafiar você, leitor, a pensar na suplementação no curto e médio prazo. Pense nela sob a ótica da fase atual, mas pense também no impacto dela no sistema como um todo, ou seja, além de avaliar se o ganho a ser explorado se paga no presente, avalie também o impacto dele nas fases seguintes.

Para ilustrar, pense na fase de recria e na suplementação proteica de baixo consumo. Sabemos que esta pode acrescentar +0,150 kg/dia no GMD do animal no período das águas.

Pois bem, além do custo-benefício dessa estratégia, o que significaria para a fazenda fazer seu uso durante 210 dias? Qual o impacto de produzir 1@ a mais nessa fase, em comparação à fase seguinte?

Bem, essas análises vamos deixar para outro momento, mas deixe seu comentário no final desse artigo, que responderemos.

O que considerar além do desembolso?

Voltando ao texto, enquanto a análise financeira é indiscutivelmente relevante, ela é só um dos inúmeros tópicos que deve ser abordado frente à tomada de decisão sobre qual estratégia adotar.  Isso, porque para alcançar o resultado esperado, precisamos que a implementação da estratégia de suplementação adotada seja bem-sucedida, não é mesmo?

Sendo assim, a escolha da melhor estratégia de suplementação deve considerar pontos relacionados a estrutura e capacidade operacional da fazenda, uma vez que, alcançar o GMD proposto será resultado de como essa estratégia será executada e administrada ao longo do tempo.

No final das contas, o que importa mesmo é como as coisas serão executadas na prática, dentro da fazenda. Não basta só escolher uma estratégia boa no papel, afinal, o que realmente faz a diferença é como essa estratégia é posta em prática e controlada no dia a dia na fazenda.

Fatores Limitantes para cada estratégia de suplementação

Disponibilidade de Cocho por Animal

A disponibilidade de cocho por animal é um tópico frequentemente subestimado. Assegurar que cada animal tenha acesso adequado ao cocho é vital para evitar competição excessiva durante a alimentação.

A falta de cocho pode promover consumo desuniforme do suplemento, aumentar o estresse e brigas no lote, resultando na desuniformidade do lote. Saber a necessidade de área de cocho para cada tipo de suplemento é fundamental, sendo este um item limitante na escolha da estratégia (veja tabela 1).

Frequência e Horário de Fornecimento

A frequência e o horário de fornecimento do suplemento são aspectos a serem cuidadosamente abordados. A decisão entre fornecimento diário, ou semanal, impacta diretamente na rotina e mão de obra da fazenda e, junto com a disponibilidade de cocho, pode ser listado como um item limitante na adoção de algumas estratégias (tabela 1).

Tabela 1. Estrutura e prática relacionada a cada tipo de suplemento

Tipo SuplementoÁrea de cochoFornecimento
Baixo consumo (0,1 a 0,2%PV)10 a 15 cm/cabeçaSemanal
Alto consumo (0,3 a 0,5%PV)25 a 30 cm/cabeçaDiário

 

Fatores Impactantes para cada estratégia de suplementação

Qualidade do Suplemento: Matérias-Primas e Formulação

A qualidade do suplemento é um alicerce fundamental para o sucesso da suplementação. Optar por matérias-primas de alta qualidade e uma formulação equilibrada é um investimento.

Não é porque você está usando um suplemento proteico, ou um suplemento proteico energético, que o resultado esperado será alcançado. A formulação desse produto e a qualidade das matérias primas importam. Ter essa consciência é fundamental!

Gestão da Suplementação: controle do Consumo

A gestão do consumo do suplemento é fundamental na obtenção dos resultados esperados. Monitorar e comparar o consumo previsto, com o consumo realizado, permite identificar desvios e tomar medidas corretivas em tempo hábil.

Sintonizando a estratégia com a capacidade operacional da fazenda

Fica claro que o sucesso da suplementação de bovinos de corte transcende o simples cálculo de lucros e gastos. Incorporar uma abordagem minuciosa à qualidade do suplemento, ao acesso aos cochos, à frequência e horário de fornecimento, bem como à gestão do consumo, é o que capacita os produtores a alcançarem resultados consistentes e otimizados.

Embora saibamos que existe uma relação linear entre fornecimento de suplemento e resposta em GMD do animal, é crucial reconhecer que não existe uma abordagem única que se encaixe perfeitamente em todas as realidades.

Cada propriedade possui uma capacidade operacional específica, moldada por suas infraestruturas, recursos e métodos de gestão.

Vamos pensar em duas fazendas distintas para ilustrar uma perspectiva clara da importância de alinhar estratégias com a capacidade operacional. Imagine, então, duas fazendas, cada uma representando extremos opostos do ponto de vista operacional.

A primeira fazenda é estruturada para operar com suplementos de baixo consumo, adotando uma abordagem de trato semanal e uma área relativamente compacta de cocho por animal. Essa estrutura permite uma gestão eficiente dentro das limitações da fazenda, garantindo que os recursos sejam otimizados e que o manejo diário seja gerenciável.

a segunda fazenda, é projetada para lidar com suplementos de alto consumo, com foco no fornecimento diário de trato. A área de cocho por animal é significativamente maior, visando minimizar a competição e maximizar a ingestão individual. No entanto, essa configuração operacional mais robusta também requer uma equipe treinada e equipamentos que favoreçam a distribuição do suplemento.

Ao comparar esses dois cenários, fica evidente que a estratégia de suplementação não pode ser isolada da capacidade operacional da fazenda. A implementação bem-sucedida não depende apenas da viabilidade econômica, mas também da adaptação da estratégia à infraestrutura existente e aos recursos disponíveis.

A primeira fazenda, embora possa aspirar aos benefícios da estratégia da segunda fazenda, precisaria passar por ajustes estruturais e operacionais significativos para acomodar essa mudança. Não basta decidir aumentar a suplementação!

Portanto, é fundamental que os pecuaristas considerem cuidadosamente a capacidade operacional da fazenda, ao escolher e implementar uma estratégia de suplementação.

Esta análise precisa levar em conta a viabilidade prática de cada estratégia, avaliando se os recursos, as habilidades da equipe e as infraestruturas estão alinhados com as demandas do tipo de suplementação escolhida.

Estruturando o fluxo de caixa

Agora que já conectamos os tópicos relacionados a suplementação de bovinos de corte sob a ótica da nutrição, manejo e infraestrutura, há um componente crítico que não pode ser subestimado: o fluxo de caixa. Este é o item que sustenta todas as ações e decisões, e é particularmente relevante quando se trata de adotar estratégias de maior consumo.

Considerando que estratégias de menor consumo naturalmente implicam em desembolsos menores, aquelas que envolvem maior consumo demandam um planejamento financeiro mais detalhado e cuidadoso.

O desafio financeiro se concentra na gestão dessa demanda por fluxo de caixa. Ao adotar estratégias de maior consumo, o pecuarista deve considerar não apenas o desembolso inicial (ajuste de estrutura e operacional), mas também o desembolso diário com o suplemento.

Patamar de excelência

Se chegou até aqui, espero que tenha entendido que a jornada para o sucesso na suplementação de bovinos de corte é uma trilha complexa, onde estratégia e operação se entrelaçam.

A jornada rumo a uma pecuária de corte bem-sucedida vai além da análise do desembolso vs. o GMD esperado. É um compromisso com a excelência na execução e gestão da suplementação, um entendimento de que cada detalhe conta e cada escolha direciona o caminho para o sucesso, ou seja, é sobre fazer as coisas direito, cuidar do jeito como as coisas são feitas e entender que cada escolha importa.

Ao longo deste texto, exploramos alguns tópicos que devem ser considerados para além da análise de desembolso versus benefício. A qualidade do suplemento, a gestão de recursos, o planejamento financeiro, a frequência e horário de fornecimento, bem como a capacidade operacional da fazenda, são fatores interdependentes que nos conduzem a um novo patamar de excelência.

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